30/01/2015 - 12:23h
Suponhamos a seguinte situação: você tem a possibilidade de promover um e apenas um dos funcionários da sua equipe. O melhor desempenho tem sido obtido por dois dos seus melhores funcionários e você precisa escolher entre um deles. Este é um dilema comum na decisão de gestores em qualquer posição. Neste caso, você precisa decidir entre Antonio, velho amigo que o acompanha há anos, fiel e de extrema confiança, ele é para você o ‘pau-pra-toda-obra’, não reclama de nada e está sempre disposto a fazer qualquer coisa que você designe para ele. Apoia as suas decisões e você sabe que ele espera esta promoção há muito tempo e também sabe que ele fará bom uso das novas responsabilidades inerentes à posição.
Em circunstâncias normais, você não teria a menor dúvida em entregar este “presente” a ele. O outro candidato, porém, é Michel: jovem, ambicioso, formado em uma das melhores escolas de negócios dos EUA, altamente dinâmico e cheio de ideias, se engaja facilmente quando acredita que pode contribuir com suas habilidades e competências. Michel tem o perfil muito valorizado no mercado, mas, mesmo assim, tem dificuldades para se manter em um Emprego. Embora esteja há apenas 8 meses na equipe, este foi o recorde de tempo que conseguiu se manter em um emprego e só está lá ainda porque você sabe lidar com o ímpeto e a ousadia que levaram Michel a se desentender com seus gestores anteriores. Você sabe que ele tem um futuro brilhante pela frente, mas apenas se pessoas como você estiverem coordenando as suas atividades e direcionando toda essa energia de forma construtiva. Michel é, enfim, um intraempreendedor e carrega, junto com todo o seu potencial, uma série de idiossincrasias típicas deste perfil profissional.
Sob tais condições, a maioria das pessoas decidiria fugir do “garoto-problema” e dar a oportunidade a Antonio, o caminho mais fácil e seguro. O problema é que ser líder envolve escolher o caminho correto, que nem sempre é o mais seguro. Michel é a escolha certa, principalmente se a promoção é um sinal de reconhecimento de que ele está no caminho certo (lembrando que podem existir diferentes sinais de uma promoção). O líder precisa ter a coragem de tomar a decisão melhor para a empresa e não para si, um comportamento raro de se encontrar atualmente. Se a saída de um talento como Michel representar uma grande perda para a empresa, todas as alternativas possíveis para retê-lo devem ser consideradas e exploradas.
O lado negativo desta decisão é, naturalmente, lidar com a insatisfação de Antonio e talvez uma certa incompreensão do resto da equipe e é isso que faz com que este caminho seja o mais complicado e o que mais exige do líder. E quem falou que é fácil ser líder?
Marcos Hashimoto é doutor em Administração pela EAESP-FGV, Professor e coordenador do Centro de Empreendedorismo da FAAP e pesquisador do Mestrado Profissional da Faccamp.
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