04/05/2015 - 09:44h
Não há surpresa nenhuma em dizer que as pessoas protegem bastante suas tradições. Afinal de contas, seguir uma tradição é um processo familiar e seguro, oferecendo o conforto da rotina, hábito e ritual. Nós precisamos estar alertas, de qualquer modo, sobre as maneiras sutis pelas quais a tradição nos aprisiona em nosso mundo conhecido, evitando que deixemos o senso comum para cultivarmos novas ideias. Ao permitir que as nossas tradições nos prendam, fechamos as portas para oportunidades essenciais para nossa evolução e, talvez o mais importante, para a revolução.
Mais traiçoeiros são os momentos em que a tradição serve para proteger ideias ultrapassadas, levando-nos a debochar das novidades ou rejeitar a ingenuidade, impedindo, assim, que tenhamos novas experiências, sejam elas grandes ou pequenas. Um passo de distância da tradição é um passo em direção ao desconhecido e, dependendo da situação, o desconhecido é um lugar que amedronta. É aqui que o empreendedor entra e por que eu gosto de pensar nos empreendedores como nossos heróis da vida moderna:
EMPREENDEDORES, IMPLACÁVEIS EM SUA BUSCA POR INOVAÇÃO, TRANSFORMAM-SE EM GUIAS PARA AQUELES QUE TÊM MEDO DE ABANDONAR A ZONA DE CONFORTO DA TRADIÇÃO.
Joseph Campbell, autoridade máxima em mitologia, entende que a jornada do herói é um mapa que detalha o caminho pelo qual devemos conduzir nossa vida. Na jornada do herói, todos nós começamos no mundo conhecido — pegando emprestado um termo de Campbell. É aqui que nascemos, é nossa posição na complexidade social que envolve família, religião, educação e localização geográfica. Esse mundo conhecido oferece um caminho previsível e seguro. Para o empreendedor, no entanto, é limitado, até sufocante. Alguma coisa impulsiona o empreendedor, um chamado do universo para desbravar o desconhecido. Atender a esse chamado, na minha opinião, é um ato de heroísmo.
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Ao longo da maior parte da minha vida pessoal e profissional, tenho me dedicado a contrariar a tradição e abraçar o desconhecido. Desde cedo, percebi que, na tradição ocidental, tendemos a organizar nossas identidades através de opostos. Em outras palavras: você pode ser um advogado ou pode ser um artista, você concorda com a lógica e os números ou com a intuição e empatia. Esses opostos não funcionam para mim, assim como não funcionam para a maioria das pessoas. Essa atitude nos encoraja a explorar apenas um lado de nós mesmos, enquanto nega outras de nossas facetas produtivas em potencial. Cercado de tantos opostos, vivemos sob a tirania do “ou”. Então fiz do lema principal da minha firma encorajar as pessoas a verem o mundo de possibilidades que é aberto quando você abraça o poder do “e”.
O poder do “e” é algo que tentamos abordar em cada faceta do nosso trabalho no Meriwether Group. Ele permite que nós levemos espiritualidade para o escritório, sejamos executivos e monges praticantes de yoga. No nosso trabalho, isso levou a emparelhar algumas das mais icônicas marcas — desgastadas pela concorrência — com colaboradores inesperados, o que fez com que elas ultrapassassem todos os limites.
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Chá, por exemplo, é uma enorme tradição, mas é também um protocolo e um ritual nas culturas ocidental e oriental. Nas tradições orientais encontramos chás verde, oolong e Pu-erh, e os chás mais elaborados de cerimônias no Japão, China, Taiwan, Coréia e mais. A tradição ocidental, por outro lado, favorece o chá preto, herbal, e é culturalmente incorporado em uma variedade de rituais, como o chá de fim de tarde no Reino Unido.
Quando um mestre na arte do chá, Steven Smith, aproximou-se de mim com a ideia de produzir um chá que emulasse os temas do meu livro “Preste atenção ao seu chamado”, nós dois sabíamos que ele teria que combinar elementos das tradições do Oriente e do Ocidente, pois ambos tiveram pesada influência na minha impressão sobre o mundo. Esse chá incorpora o poder do “e” por meio de uma improvável mistura de fragrância de hissopo e hortelã da América do Norte, chá verde da China e gengibre vietnamita. A intenção é, paradoxalmente, promover energia e calma na mesma dose.
Ao abraçar o “e”, empreendedores trazem para o mundo produtos e serviços, que rompem com a tradição e, ao fazerem isso, constroem marcas icônicas. No final do dia, inovação é só um tipo de interrupção, e nós precisamos dar as boas-vindas a esse tipo de interrupção em nossas vidas. Pode parecer estranho, mas eu acredito que nós devemos interromper o senso comum sempre que pudermos, seja interrompendo o mercado com produtos inesperados ou fugindo do caos do nosso dia para uma hora de yoga e meditação.
David Howitt é CEO e co-fundador do Meriwether Group
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