07/10/2016 - 08:48h
Agência Indusnet Fiesp
O temor de nova sobrevalorização do câmbio é o maior obstáculo às exportações para 72% das empresas brasileiras, segundo mostra a pesquisa “Expectativas e Obstáculos Para Exportações e Substituição de Importações da Indústria em 2016”, elaborada pelo Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec), em parceria com o Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp (Derex).
Para Thomaz Zanotto, diretor titular do Derex, a influência do câmbio é um fator preocupante para o setor, pois diminui a competitividade das exportações brasileiras. “No Brasil, a taxa de câmbio passou muito tempo sobrevalorizada, o que subsidiava a entrada de produtos importados. Assim que alcançou um patamar mais realista, em torno dos R$ 3,70, o manufaturado brasileiro voltou a ganhar mercado externo.”
Além do câmbio, outros fatores foram citados como obstáculos para a exportação. Entre os cinco fatores que dificultam na hora de exportar, o financiamento aparece por três vezes, devido ao alto custo, difícil acesso e restrita oferta, segundo 67%, 64% e 60% das empresas, respectivamente.
Zanotto explica que a taxa de juros para crédito de curto prazo no Brasil é de 32% ao ano, frente a 8,1% no Chile, 5,6% na China e 3,3% nos EUA. Dos entrevistados, 63% apontaram que é muito alto o investimento necessário para criar uma estrutura de exportação, refletindo os diversos fatores do Custo Brasil, e 45% consideram que os preços dos seus produtos não são competitivos no mercado externo.
Segundo o diretor do Derex, há também outros pontos determinantes que limitam as empresas na hora de exportar, como a tributação, por exemplo. “A margem de lucro das exportações é baixa e, na impossibilidade de se exportar tributos, o acúmulo de impostos ao longo da cadeia produtiva tem que ser compensado de alguma forma. Nenhum país exporta tributos”.
De acordo com a pesquisa, somente 35% das empresas entrevistadas exportam anualmente, das quais 43% pretendem ampliar as exportações. Mesmo considerando isso, a previsão de aumento de exportações em 2016 é de 6%. Cinquenta e dois por cento nunca exportaram, e 98% dessas devem continuar sem exportar. Desta forma, empresas que já exportam tendem a elevar suas vendas externas de forma pouco expressiva, realizando poucos investimentos.
Zanotto afirma que exportar produtos da indústria de transformação demanda esforços comerciais e uma série de investimentos específicos que somente podem ser viabilizados com um ambiente de negócios regular, estável e previsível. Para ele, isso abrange desde a sobrevalorização e volatilidade da taxa de câmbio até a incertezas no âmbito macroeconômico, jurídico, tributário, regulatório e trabalhista, principalmente.
Importações
O estudo revelou que 37% das indústrias reduzirão as importações de insumos, incluindo máquinas e equipamentos. A queda será, em média, de 44%. Das indústrias que diminuirão a importação de insumos, 43,5% substituirão fornecedores externos por internos (em média, 24% do que se deixará de importar).
Já as importações de produtos acabados para revenda pelo setor devem cair cerca de 9%. Cerca de 32% das entrevistadas vão reduzir as compras externas para revenda, com queda média de 37,8%. E entre elas, 41% deixarão de vender esses produtos, de forma que a substituição pela produção doméstica tende a ser pequena.
Na análise de Zanotto, “a queda das importações reflete o atual quadro recessivo do Brasil. A redução nas compras de bens acabados mostra que os indivíduos deixaram de consumir. Por outro lado, a queda na compra de insumos também mostra que a indústria deixou de produzir”.
Metodologia
Com objetivo de identificar os fatores que limitam a atuação no mercado externo, identificar estratégias predominantes do setor para a importação de insumos e produtos prontos para revenda e sua eventual substituição por produtos fornecidos localmente, foram ouvidas 1.120 empresas da indústria de transformação, sendo 534 pequenas, 405 médias e 181 grandes, entre os dias 14 de março e 22 de abril de 2016.
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