'A grande aposta' transforma crise de 2008 nos EUA em comédia

Steve Carell, Ryan Gosling, Christian Bale e Brad Pitt estão no elenco.
Diretor Adam McKay acerta ao traduzir 'economês' em filme dinâmico.

Provável candidato ao Oscar 2016 de melhor filme, "A grande aposta" tinha tudo para ser entediante. Quem se interessaria em ir ao cinema para ver uma trama sobre swaps de crédito, dívidas colateralizadas e títulos hipotecários subprime?

No entanto, o que menos se sente é tédio durante os 130 minutos do filme que estreia nesta quinta (14). O diretor Adam McKay, de "O âncora" e roteirista do programa "Saturday Night Live", pega todo esse "economês" e traduz em um longa dinâmico de comédia, estrelado por Steve Carell, Ryan Gosling, Christian Bale e Brad Pitt.

O filme é baseado em fatos reais e não propriamente engraçados: a crise financeira de 2008 nos Estados Unidos. Toma como verdade a versão do livro "A jogada do século", de Michael Lewis, um dos mais importantes autores da área econômica. Lançado em 2010 nos EUA e em 2011 no Brasil, o livro entrou para a lista de best-sellers do "New York Times".

A bolha
Em "A grande aposta", todos os astros são protagonistas (ou não há coadjuvantes). Steve Carell, Ryan Gosling, Christian Bale e Brad Pitt interpretam investidores que previram o comportamento dos norte-americanos que conduziu à catástrofe financeira em 2008.

Os bancos permitiram que pessoas que não tinham recursos comprassem casas à crédito. Quando a bolha estorou, a crise deixou milhões de pessoas desempregadas e sem lugar para morar.

Christian Bale em 'A grande aposta' (Foto: Divulgação)

A ideia desses quatro homens é enriquecer brincando não de banco imobiliário, mas contra o banco. São personagens excêntricos que surgem de um ambiente caótico e cheio de dinheiro em jogo.

Gosling se destaca pelo papel irônico; Pitt por ser o desonesto que virou "do bem"; Carell por ser o mais dramático; e Bale o mais desequilibrado de todos, um homem que tem um olho de vidro e escuta heavy metal para manter seu cérebro funcionando. Se o final dessa galera é feliz? Dependerá da moral de cada espectador.

Wall Street pop
McKay aborda esse tema da crise econômica de forma ousada. Ele deixa de lado a narrativa clássica do cinema e opta por um ritmo alucinado de acontecimentos. Sua grande jogada foi abusar da cultura pop.

A trama mescla ficção sobre o funcionamento de Wall Street com cenas tiradas dos noticiários, do YouTube e do Google Images. Ele coloca citações literárias no meio da ação e uma trilha sonora para órfão da MTV chorar de nostalgia, com Nirvana e Gorillaz.

Margot Robbie em 'A grande aposta' (Foto: Divulgação)

McKay insere cenas de curta duração com celebridades como Selena Gomez em situações esquisitas para explicar termos econômicos. O objetivo é mostrar que todo mundo pode entender e falar sobre finanças.

Sobre homens brancos
Por exemplo, a atriz Margot Robbie ("O lobo de Wall Street") toma champanhe numa banheira de espuma enquanto fala sobre swaps (trocas de risco sobre operações financeiras) e subprimes (créditos de risco).

Incluindo uma participação minúscula de Marisa Tomei como a esposa preocupada de Steve Carell, essas são as vezes em que mulheres aparecem atuando nesse filme.

O chamariz de "A grande aposta" para conseguir bilheteria e público com certeza é seu grande elenco. Assim como "Spotlight: Segredos revelados", outro favorito ao Oscar, "A grande aposta" deu Emprego à boa parte da majoritária Hollywood branca e masculina. A diferença é que, em "Spotlight", Rachel McAdams é coadjuvante.  

Ryan Gosling em 'A grande aposta' (Foto: Divulgação)  


Brad Pitt está no elenco de 'A grande aposta' (Foto: Divulgação)

Elenco de 'A grande aposta' (Foto: Divulgação)