06/07/2015 - 13:23h
Você, leitor, seguramente já escutou, leu ou até mesmo usou diversas vezes a palavra mentor. Trata-se de um termo relativamente comum no vocabulário empresarial, assim como seus derivados mentoring, do inglês, e o neologismo “mentoria”. A vida empresarial, no entanto, está repleta de expressões utilizadas à exaustão que, paradoxalmente, se desgastam antes mesmo que tenhamos tempo de depurar seu significado e sua real importância.
A palavra mentor é um desses casos, e, por isso, gostaria de refletir com você sobre isso. E já aviso: esta conversa extrapola o mundo dos negócios, ainda que a reflexão possa ajudá-lo diretamente a se desenvolver como empreendedor.
A melhor maneira de fazer essa reflexão é ir à origem do termo. Mentor é um personagem da Odisseia, de Homero. No poema épico, ele era um sábio e fiel amigo de Ulisses, rei de Ítaca. Ao partir para a Guerra de Tróia, Ulisses deixa o filho, Telêmaco, sob os cuidados de Mentor. Muitos anos se passam, no entanto, sem que o rei retorne, o que deixa Telêmaco preocupado, além de vulnerável à dilapidação do patrimônio do pai por pretendentes que tentam seduzir sua mãe, Penélope.
Telêmaco decide sair em busca de Ulisses. Como era muito jovem, parte na companhia de Mentor, que lhe dá suporte, orientação e o inspira na jornada. Ir em busca do pai assume, nesse contexto, o sentido de uma iniciação no mundo adulto, um batismo que contribuirá para seu amadurecimento pessoal. Esse percurso é facilitado pelo apoio que recebe de uma figura sábia, experiente e deseja o seu bem: Mentor.
Na Odisseia, porém, Mentor era um personagem de pouca expressão. Ele só ganhou relevância – numa passagem que tem reflexos diretos nos dias de hoje – depois que o escritor francês François de Salignac de la Mothe Fénelon publicou, em 1699, uma releitura do poema de Homero. Chamada de As Aventuras de Telêmaco, a obra eleva Mentor à figura de segundo pai e Professor do filho de Ulisses. A obra foi bem-recebida à época e, em 1750, a palavra mentor entrou para os dicionários de francês e inglês como sinônimo de conselheiro sábio, além de protetor e financiador. Nascido em Périgord, em agosto de 1651, Félenon costuma ser descrito como um intelectual generoso e que sempre demonstrou grande capacidade para ensinar.
Assim como Telêmaco, todos temos de lidar, invariavelmente, com grandes jornadas ao longo da vida. Elas podem ser de ordem existencial, espiritual, acadêmica ou profissional. Em cada um desses campos a presença do mentor é importante. O mestre pode ser qualquer pessoa – um superior na empresa, um professor, amigo, alguém que consideramos referência na área de atuação escolhida. E na vida não temos um, mas vários mentores.
No meu caso, o primeiro e o mais importante é o meu pai, também chamado Romero. Nosso vínculo começa pelo nome e passa pela profissão, pois ele também é engenheiro e sua carreira culmina no empreendedorismo. Com sua sabedoria – e também de minha mãe -, ele permitia que eu, na infância e depois adolescência, desmontasse aparelhos eletrônicos e os espalhasse pela casa. Isso fez nascer em mim o encanto pela experimentação e pela invenção, o que depois se mostrou determinante na minha carreira – essa motivação fez com que cedo, aos 14 anos, já soubesse que traçaria minha carreira profissional na intersecção do empreendedorismo e da tecnologia – e assim, fui para o mercado digital, área na qual a inovação acontece por meio de tentativas, erros e acertos.
O desejo por empreender, por sua vez, também surgiu por causa de meu pai. Quando eu era criança, ele era dono de uma loja. Gostava de vê-lo trabalhar, mesmo aos sábados. Assim, fui aprendendo as belezas e as dificuldades de empreender.
Lembro-me que certa vez, eu já adolescente, ele e minha mãe foram viajar e fiquei com a missão de cuidar da loja durante a ausência deles. Foi uma experiência marcante. Além de prazer, aquilo me despertou um senso de responsabilidade muito grande.
Para completar essa história, eis outra passagem que me emocionou profundamente e foi um dos tantos exemplos da sabedoria de um meu pai no papel de mentor do próprio filho. Quando passei na universidade, pedi um carro, mas ele não me atendeu. Em vez disso, raspou suas economias, me deu um computador super avançado e disse o seguinte: “Com isso daqui, depois você vai poder comprar o quiser”.
Como um autêntico mentor, meu pai sabia muito bem o poder educador daquela sua atitude. E veja como é a vida: foi com aquele PC que, alguns anos mais tarde, eu e mais três amigos começamos a programar o site que mudou nossas vidas.
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