11/04/2016 - 09:49h
Quando se fala em educação, é consenso pensar que a mesma deve ser integral, que deve abranger a totalidade da pessoa. Pensar uma educação que seja integral, que leve em consideração o ser humano como um todo, implica também incluir a educação para a sexualidade. Contudo, quando nos deparamos com essa inclusão, ficamos confusos, uma série de dúvidas pairam. Talvez porque para falar de educação sexual temos que necessariamente falar de sexualidade, e ai está o problema.
Sexualidade é um tabu em nossa sociedade, o que torna tudo mais difícil. Ela é sempre associada à perversidade, segundas intenções, imoralidade, piadas e questões afins. E pela sexualidade ser já um tabu, tudo o que diz respeito a ela se torna velado, intocado, escondido, o que faz com que quando se fale em educação sexual, se faça referência a essa nuvem obscura de dúvida e insegurança. Ou seja, pensa-se que será ensinado à criança ou ao adolescente os jogos sexuais, como se transa ou coisas do gênero. Pensa-se no risco de introduzir o educando nesse "mundo perverso". Educação sexual está longe de ser isso. Para pensar a educação sexual de outra forma é necessário compreender seus objetivos e alguns aspectos da sexualidade de forma mais profunda:
Sexualidade em si
Para se compreender a educação sexual como algo bom, o primeiro, necessário e indispensável aspecto é entendê-la como algo maior, que inclui a pessoa como um todo, não apenas o sexo. Sexualidade não é apenas a dimensão genital, os relacionamentos sexuais, ou a atração sexual. É bem mais que isso.
Sexualidade diz respeito à identidade, às relações humanas, sexuais ou não, à atração, ao prazer, à vitalidade, à energia que desprendemos quando nos dedicamos a algo. (Falaremos mais sobre isso nesse artigo O que é sexualidade?).
Sendo assim, é importante ver a sexualidade como uma dimensão constitutiva do ser humano. Ou seja, a sexualidade é inerente à pessoa. Não há como falar do humano sem falar da sexualidade, assim como não há como falar de educação de um ser humano sem falar de sexualidade. É uma dimensão humana, como a espiritualidade, por exemplo.
Não deixamos nossa sexualidade em casa quando vamos a uma festa, tampouco o fazemos quando vamos à escola. Às vezes temos a tendência de dividir essas dimensões humanas, contudo isso não é adequado. Sendo assim, é necessário ver a pessoa, a criança, como um todo, inclusive como alguém dotado de sexualidade. Nesse sentido a educação sexual tem um papel primordial. Só dessa forma podemos mudar essa visão reduzida de sexualidade para uma visão que é melhor, mais verdadeira e mais bonita.
Identidade
Outro aspecto é a questão da identidade. Faz parte do processo de construção da identidade da pessoa questões como masculino e feminino, orientação sexual e identidade de gênero. Ou seja, o processo de descoberta e construção da própria personalidade passa necessariamente pela dimensão da sexualidade.
Esse é o processo em que também se insere a discussão de gênero, conceito que foi muito mal entendido nesses últimos tempos. Associou-se gênero a uma série de preconceitos e má compreensões que fizeram a educação sexual ser vista como algo negativo e perverso (Falaremos mais sobre isso nesse artigo Como assim Discutir Gênero?).
Um dos maiores desafios do ser humano é pensar sua identidade. Esse processo que inicia na puberdade, na entrada na adolescência, tem sua maior intensidade nesse momento, mas se estende por toda a vida. O ser humano é sempre um ser em busca, sempre insatisfeito, sempre limitado e, paradoxalmente, sua maior dádiva é o fato de nunca estar pronto.
Contudo, ainda que essa busca continue pelo resto da vida, durante o processo de escolarização, especialmente na adolescência, ele tem o seu ponto mais alto. Infelizmente, muitas vezes esse processo é ignorado. A educação sexual é um elemento integrador que ajuda o adolescente e a criança a se compreender, a interpretar suas experiências e a formular os passos na construção da sua identidade. É ela que ajuda a pessoa a realizar-se enquanto ser humano diante de sua condição humana.
Abertura à relação
Um outro aspecto necessário, contemplado na educação sexual, é o sentido relacional. Quando aqui falamos de relação não nos referimos a ficar, namorar, sexo, casamento apenas, mas também. O amadurecimento sexual nos abre às relações, que na infância são mais restritas (casa, família, escola), para relações mais amplas e que exigem de nós maior desprendimento de si mesmo.
Usamos nossa sexualidade também na amizade, nos relacionamentos profissionais, na intimidade familiar. Claro que esses relacionamentos não são sexuais, no sentido de haver prática sexual, mas são sexuais no sentido de utilizarmos de nossa energia. Quem não gosta de estar próximo de pessoas queridas, receber um abraço, estar com um amigo para desabafar, partilhar projetos profissionais? Apesar de muitas vezes não notarmos, em todos esses momentos estamos utilizando nossa sexualidade.
E há ainda os momentos em que direcionamos nossa sexualidade no sentido de atração corpórea ou até mesmo genital. Muitas vezes, pais e educadores, esquecemos que existe um processo de desenvolvimento no educando que acontece sem precisar ensinar. Assim, é necessário também que nesse desenvolvimento, o adolescente, ou até mesmo a criança que inicia a puberdade ainda na infância, ele seja orientado sobre o que está acontecendo com seu corpo, como lidar com seus impulsos e o estabelecimento de regras de convívio entre outros. Tudo isso também é papel da educação sexual.
Prevenção
Por fim, a educação sexual é também um elemento de prevenção. Primeiro de prevenção de abusos. Uma criança bem orientada consegue perceber um toque ou um gesto que não é adequado, e se sente segura para se defender e pedir ajuda para um adulto, não se sentido culpada pelo abuso, algo que é muito comum.
Prevenção também da gravidez precoce e indesejada. Refletir com o adolescente sobre a responsabilidade que implica o ato sexual é fundamental para que ele pense as consequências e os riscos dos seus atos. Do mesmo modo, a importância de se cuidar em relação às Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). Muitas situações de incidentes relacionados à gravidez e às DSTs são causados por desinformação, ou a uma informação que não foi exatamente processada sobre riscos e consequências com o jovem.
Prevenir, e mais que isso, promover a tolerância no que diz respeito à diversidade, principalmente sexual, seja quando há bullying por orientação ou gênero, seja quando algum educando não se encaixa dentro de preceitos sociais (azul para meninos, rosa para meninas).
Portanto
Há ainda muitas dúvidas. Quais os riscos de se falar sobre educação sexual? Não se estaria instigando a criança ou adolescente à prática sexual? Como fazer uma intervenção de orientação sexual? Quais assuntos falar com cada idade? (Falaremos mais sobre isso nesse artigo “Quando iniciar a educação sexual?”)
Todas essas dúvidas vêm em nossa mente. Nos sentimos inseguros, como educadores ou pais, para falar sobre sexualidade. Isso se dá por uma questão simples. Não fomos educados a falar sobre isso. Temos dificuldade de tratar a sexualidade como algo natural, verdadeiro, bom e belo. Essa dificuldade se dá pela própria falta de educação sexual. Mas, temos a possibilidade de mudar isso. Temos a possibilidade de fazer diferente, de mudar a nós mesmos e assim construir uma nova realidade.
Educação Sexual nos fará ser pessoas mais realizadas, mais integradas. Nos tornará capazes de amarmos a nós mesmo, e saindo de si mesmo, amar o outro. Nos ajuda a prevenir abusos, a proteger nossas crianças, conscientiza o adolescente dos riscos e consequências da vida sexualmente ativa. Enfim, educar para a sexualidade é educar para a liberdade, para além de formas prontas e definitivas.
Vimos aqui alguns motivos para a educação sexual. Aqui o objetivo foi de um despertar para a reflexão. Não somos os únicos. Existem muitos grupos, espaços, materiais, conteúdos para nos auxiliar nessa jornada. Basta que tenhamos abertura para começar a escrever uma nova história, um novo modo de lidar com a sexualidade, um modo que possa ser mais pleno, mais ético e mais humano.
Em breve traremos mais reflexões para ajudar nesse caminhar. Curta a página, acompanhe os textos, enviem perguntar, comentários, críticas. Estamos à disposição para dúvidas
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