17/01/2017 - 07:35h
A proporção de mulheres que usaram camisinha na última relação sexual passou de 28% para 36% no período de 1999 a 2012 em Pelotas, e uma em cada três mulheres nunca realizou o teste para HIV.
Os principais fatores que influenciam o uso do preservativo e a realização do teste para HIV entre as pelotenses são a situação conjugal ou a rotina de exames do pré-natal, mais do que a prática sexual de risco ou a percepção da mulher sobre o risco de contrair HIV.
As conclusões são parte da tese de doutorado de Marília Arndt Mesenburg, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), sob orientação da professora Mariângela Freitas da Silveira. O trabalho avaliou a influência da percepção de vulnerabilidade e do comportamento sexual de risco sobre a adoção de comportamentos protetores para HIV em mulheres, com base em dados de dois inquéritos populacionais realizados em 1999 e 2012.
Ao todo, foram entrevistadas 2.765 mulheres de 15 a 54 anos, residentes na cidade de Pelotas. Foram considerados comportamentos sexuais de risco ter múltiplos parceiros sexuais, fazer sexo anal, ingerir álcool ou drogas ilícitas antes da relação sexual e ter tido a primeira relação sexual em idade precoce (menos de 18 anos).
Os resultados mostram que a situação conjugal é o principal determinante do uso do preservativo entre as mulheres. Mulheres solteiras usaram três vezes mais a camisinha do que as mulheres que viviam com companheiro, segundo o levantamento mais recente. Mesmo entre as solteiras, 48,3% não usaram o preservativo na última relação sexual. Entre as mulheres que tinham companheiro, o percentual das que não usaram a camisinha sobe para 83,5%.
“Apesar do aumento observado no uso de preservativo, a prevalência em geral ainda é muito baixa. Além disso, estar ou não solteira é o principal fator de influência”, comenta a autora.
O maior aumento no uso da camisinha aparece no grupo de mulheres que teve escore zero para comportamento de risco. Nesse grupo, a proporção passou de 23% para 35,4% no período, contra mudança de 37,7% para 44,4% no grupo com escore de dois ou mais fatores de risco. “Mais da metade das mulheres que têm dois ou mais comportamentos de risco estão desprotegidas na relação sexual”, diz a pesquisadora.
Os resultados sobre a realização de teste de HIV revelam que duas a cada três mulheres (66,1%) já fizeram o teste pelo menos uma vez. “Embora a maioria das mulheres já tenha realizado teste para HIV, um terço ainda não sabe seu status sorológico, principalmente aquelas que nunca estiveram grávidas e, portanto, não passaram pela rotina de exames do pré-natal”, alerta a autora.
De acordo com os dados, o motivo mais frequente para a realização do teste é a solicitação de exames durante acompanhamento pré-natal, respondendo por 52,4% dos casos. Doação de sangue aparece em segundo lugar, com 12,3% dos casos, seguida de curiosidade, com 11,2%, solicitação médica, com 11,1%, e percepção de risco, com 4,3%.
“Nosso estudo demonstra que tanto o uso de preservativo quanto a realização de teste para HIV são mais influenciados por fatores como estar solteira ou já ter engravidado do que pela própria percepção da mulher sobre o risco ou pela adoção de comportamentos sexuais de risco. São achados importantes, que permitem a identificação dos grupos de mulheres mais vulneráveis”, diz Marília.
Segundo o Boletim Epidemiológico de DST e Aids do Ministério da Saúde, o Rio Grande do Sul apresenta a mais alta taxa de detecção de casos de Aids no Brasil, com 38,3 casos por cem mil habitantes em 2014 – número superior ao dobro da taxa de detecção nacional no mesmo ano (19,7 casos por cem mil habitantes).
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