Ser Universitario
 

Quando o aprendizado do intercâmbio vai muito além do idioma

19/02/2016 - 03:03h

O que seria o intercâmbio senão um aprendizado constante? Sol Resende, uma jovem de 35 anos, natural de São José dos Campos, SP e pós-graduada em gestão de projetos, percebeu que o seu currículo e experiência teria que esperar um pouco até que a fluência no inglês fosse uma realidade. Enquanto isso foi saboreando outros aprendizados que o intercâmbio nos permite, e foram muitos.

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Por Sol Resende

Em um período de transição de carreira e desesperançosa com o Brasil resolvi que iria Estudar Fora. E assim, cheguei a Irlanda.

Na lista de opções de países de língua inglesa que me permitiriam estudar e trabalhar estavam: Austrália, Nova Zelândia e por fim a Ilha Esmeralda. Depois de pesar os prós e contras de cada um deles e considerar também que eu não conhecia a Europa ainda, fiquei com a Irlanda.

Cheguei em setembro de 2014, com inglês básico. Após um semestre de aulas na Ilha, o meu progresso na língua estava muito aquém do que eu imaginava. O Emprego então, parecia algo impossível e a verdade é que um sentimento de incapacidade foi crescendo dentro de mim.

Para suprir a agonia, me lancei nas viagens: Itália, França, Inglaterra, Escócia, Marrocos e também nos redores de Dublin. As viagens foram lindas, mas o meu dinheiro evaporou-se com a mesma rapidez dos primeiros seis meses no Velho continente, e no meu caso, não tinha auxílio financeiro da família. Foi então que decidi encarar o subemprego.

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E foi ai que surgiu o primeiro grande aprendizado do intercâmbio, pelo menos para mim. Viver em outro país, trabalhando apenas 20 horas por semana te ensinará duas coisas: como viver de forma simples e que você não precisa de tanto assim para viver.

A minha rotina não havia nadinha de festas, restaurantes ou bebedeira como muitos relatam por ai. E não era por que eu não queria, era porque a grana quase não sobrava. Por sorte e persistência consegui trabalhar em grandes eventos em estádio de futebol, vendendo bebidas e cachorro quente, o que me garantia algum momento de diversão nessas ocasiões. Trabalhava muito, ganhava pouco (o salário mínimo irlandês), mas me divertia um pouco.

O segundo grande aprendizado surgiu justamente pela situação em que me encontrava na Irlanda. Foi ai que descobrir a força e a fé imensa que existia dentro de mim. Eu me dizia todos os dias que tudo isso iria valer e muito a pena. Confesso que por diversas vezes pensei em desistir. Mas ai pensava que desistir me levaria de volta a uma vida acomodada, em um país que enfrenta mais uma crise econômica, estrutural, de valores e política. O que também, não era nada animador. Tentar outro país  sairia caro e a essa altura eu não possuía mais recursos financeiros para tal, então o melhor era arriscar por aqui mesmo e renovar o visto de estudante acreditando que as coisas mudariam. E mudaram.

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 Já com o inglês melhor, comecei a fazer mais amizades, a pessoa comunicativa que sou voltou a aflorar e consegui extender o meu networking. Cheguei a enviar mais de 2000 currículos. Consegui umas poucas entrevistas, todas sem sucesso, mas continuei tentando. Não perdia uma oportunidade de interagir, mesmo durante o trabalho como cleaner, sempre dava um jeitinho de bater papo sobre minha experiência no Brasil.

Passados os 15 meses da minha chegada na Irlanda, finalmente as portas se abriram. Depois de tanto contar sobre minhas qualificações profissionais, um empresário notou meu potencial e me concedeu a oportunidade de trabalhar meio período em sua empresa. Foi incrível, foi a minha primeira oportunidade concreta de mostrar quem eu realmente era. O trabalho se resumia a serviços administrativos, com carga horária fixa, registrada e agora com um salário mensal. Thanks God!

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Foi ai que o intercâmbio me apresentou o terceiro grande aprendizado e talvez um dos mais importantes: a persistência. Seria fácil ter desistido, seria fácil ter cansado de bancar a intercambista, mas se eu tivesse desistido, jamaos teria a oportunidade de mostrar o meu profissionalismo. O subemprego me ajudou a chegar até aqui, e foi também ele que me permitiu aumentar meu networking e falar com pessoas que como aconteceu, puderam notar meu potencial.

Então,  o conselho que deixo para você, que tem um perfil parecido ao meu: independente financeiramente e com inglês básico, não se intimide, ou desista na primeira oportunidade. Venha com uma reserva extra para os primeiros meses de dificuldades, de preferência o suficiente para se manter aqui, sem trabalho, por um bom período, pois você nunca sabe se o emprego surgirá em dois meses ou depois de um ano.

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E sim, venha disposto a lavar muita privada, a ser aupair, a servir, a ser camareira. Na pior das hipóteses todas essas experiências te ensinaram muita coisa sobre você mesma, sobre os seus limites, sobre o quer você deseja para a sua vida, e ainda te ajudará a agradecer por tudo o que você já tinha na vida e talvez não valorizasse.

O intercâmbio, a Irlanda e essa experiência louca de iver no país dos outros me serviu de um aprendizado incrível. Foi aqui que eu aprendi a cozinhar bem, a lavar roupas com eficiência, a usar transporte público de forma eficiente, a fazer compras bacando uma economista e a entender que nada é tão simples como a gente pensa.

Desapegue-se do seu currículo incrível do Brasil, se você chegar por aqui com o inglês básico. Concentre-se em melhorá-lo, em ter alguma experiência aqui no exterior, mas ao mesmo tempo não deixe de lembrar a você mesmo e aos outros, que tudo isso é temporário, que haverá o dia em que você vai poder se comunicar melhor, estar mais segura da língua e consequentemente mostrar quem você é e todo o seu potencial. Afinal, a língua é apenas um dos aprendizados do intercâmbio.

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Com 35 anos, divorciada e sem filhos, a vida aqui na Irlanda parece me acarinhar melhor.?Ainda não estou?exercendo as minhas maiores habilidades profissionais, mas agora as expectativas são grandes e o entusiasmo maior ainda.

Até o?frio desse ano  parace estat bem?mais suportável que o inverno anterior ;)!

Fotos: Arquivo Pessoal


Fonte: E-Dublin



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