01/05/2014 - 18:01h
Em universidades do Brasil, os alunos podem contar com bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do programa Ciência Sem Fronteiras, todos ligados ao governo federal. Por meio desses programas, também é possível se candidatar para vagas no exterior. Mas existem ainda alternativas, como as bolsas da Fundação Estudar ou do Instituto Ling, além da iniciativa privada: não é incomum empresas pagarem bolsas parciais ou integrais para que seus funcionários aprimorem seus estudos.
Quem deseja uma experiência fora do Brasil pode tentar primeiro o programa de bolsas da própria instituição onde vai fazer a pós. A gerente da Fundação Estudar, Renata Moraes, recomenda ainda, em casos de bolsas parciais, que o aluno busque benefícios complementares em outras instituições relacionadas à sua especialidade. Muitas universidades no exterior têm parcerias com instituições bancárias e, às vezes, o próprio vínculo com o curso pode ser usado para facilitar o financiamento do estudante junto a esses bancos.
As bolsas que a Fundação Estudar oferece são parciais, e os alunos são selecionados de acordo com o seu perfil e potencial intelectual. Em 2014, foram 30 alunos selecionados entre 60 mil inscritos de diferentes áreas, segundo Renata. A fundação determina o valor da bolsa de acordo com a renda de cada aluno e recomenda ao estudante manter uma poupança, além de considerar trabalhar para se manter lá fora durante um período de até dois anos. Na Europa e nos Estados Unidos, é comum que os alunos realizem estágios de férias em que as empresas pagam por dois ou três meses de trabalho.
O Instituto Ling oferece bolsas parciais para alunos que já tenham sido aceitos em cursos de mestrado no exterior nas áreas de administração, jornalismo e direito. Segundo a coordenadora do instituto, Sandra Mofcovich, têm preferência alunos matriculados em instituições de excelência. Ela explica que o critério existe porque, como há boas instituições aqui no País, para ir para o exterior o curso precisa ser melhor dos que as opções no Brasil. O custo médio dos cursos no exterior nas áreas atendidas pelo instituto é de US$ 150 mil. De acordo com Sandra, para a seleção dos bolsistas também é feita uma análise da renda do aluno.
O mestrando com bolsa do Instituto Ling começa a receber o dinheiro após cumprir a metade do curso, e é permitido que o aluno acumule bolsas de outras instituições. A entidade já ofereceu 196 bolsas de mestrado em seus 18 anos de atuação, um investimento de US$ 3,8 milhões, segundo Sandra.
"Venda" seu projeto para uma empresa
Os projetos desenvolvidos por alunos com bolsas de instituições ou de empresas privadas podem ser direcionados para que a pesquisa seja aproveitada futuramente na empresa apoiadora. Segundo a Capes, não existe nenhuma regra sobre a propriedade intelectual dos trabalhos realizados pelos alunos de mestrado e pós-graduação. Para a Capes, que avalia e recomenda os cursos de mestrado e doutorado no País, o aluno é livre para definir o que fazer com a pesquisa de sua autoria, e o único caso em que se deve ter mais cautela na análise é com pesquisas que geram patentes, quando o aluno precisa verificar se houve acordos com empresas ou mesmo com setores das universidades.
A presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Luana Bonone, diz que a entidade não vê problemas nos casos em que empresas financiam a especialização de seus funcionários. Mesmo que esse aluno tenha que produzir uma pesquisa voltada para a empresa, essa é uma iniciativa que complementa as bolsas oferecidas pelo governo e proporciona a mais alunos o acesso à especialização. A ANPG não tem registro de nenhum relato ou denúncia de problemas com relação à liberdade de pesquisa.
A principal reivindicação da entidade é que o Estado aumente a capacidade de bolsas oferecidas, já que hoje o número de bolsistas na pós-graduação não chega a 50% do total de estudantes (somando todas as bolsas oferecidas pelo governo federal e pelos Estados). Essas bolsas que não resultam de investimento do setor privado garantem ao aluno a escolha do tema de sua pesquisa. A democratização do acesso é importante para o desenvolvimento do País, segundo Luana.
O Professor do departamento de Política Científica e Tecnológica Renato Pedrosa, que participou do Grupo de Estudos em Ensino Superior do Centro de Estudos Avançados da Universidade de Campinas (Unicamp), diz que não existe nenhuma regra quanto a alunos que realizem projetos voltados para a empresa em que trabalham. Isso é bastante comum nas áreas da tecnologia, economia e química, diz. Segundo o professor, os mecanismos de controle que a universidade têm sobre a pesquisa dos seus alunos se restringem às avaliações do tema do projeto no momento da admissão, na qualificação e na aprovação final.
Segundo o professor, apesar de não haver restrições, as bolsas mais comuns entre os estudantes da Unicamp são as da Capes, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do CNPq, mas também existem alunos que recebem incentivo do empregador e desenvolvem projetos voltados para a empresa.
A coordenadora geral de Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Angélica Benatti Alvim, destaca a diferença entre o mestrado acadêmico e o mestrado profissionalizante. Na área acadêmica, a maioria dos alunos estão interessados em pesquisa e ensino, enquanto na profissional, que não é atendida pelas bolsas da Capes, há muita integração com as empresas privadas. A forma do aluno receber uma bolsa nessa modalidade de mestrado é por meio da empresa em que trabalha; esta investe na qualificação do seu funcionário com a expectativa de ter a contrapartida do pesquisador desenvolver um projeto útil para ela.
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