30/03/2016 - 18:02h
As doutoras tituladas no exterior representam, desde 2012, mais de 60% dos brasileiros que obtiveram esse título em outros países. Informações como essa compõem o estudo "Doutores Brasileiros Titulados no Exterior (1970 - 2014)", apresentado nesta terça-feira, 29, pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), durante seminário em Brasília.
O estudo mostra que no Brasil há 14.173 doutores titulados no exterior entre 1970 e 2014. Desse total, 8.357, ou 59%, são homens e, 5,786, ou seja, 41%, são mulheres. Até 2011, os homens eram os que mais saíam do Brasil para obter a titulação. Em 1970, apenas 12 mulheres haviam se titulado no exterior, enquanto os homens eram 29. A partir de 2012, esse cenário muda, e as mulheres doutoras ultrapassam os homens. Em 2014, 464 mulheres fizeram o doutorado fora, os homens com a mesma titulação eram 291.
"Isso pode estar associado a um conjunto de fatores sociais e econômicos bem conhecidos no país, como a crescente independência e liderança da mulher na sociedade brasileira, a transformação do papel feminino – a maternidade já não é o principal fato social na vida da mulher no Brasil - e a participação ativa no mercado de trabalho, o que é recorrente e cada vez mais expressivo", afirma o coordenador do estudo e assessor técnico do Centro, Henrique Villa.
Desigualdade de renda
No entanto, as doutoras tituladas no exterior ainda ganham menos que os doutores que também se formaram em outros países. Elas recebem uma média de 83,5% do salário dos homens. Dados como esse integram o documento, que apresenta uma análise sobre o perfil dos doutores com formação plena no exterior entre 1970 e 2014. O estudo foca em aspectos relacionados às características da formação acadêmica dos mesmos, da atuação profissional desse grupo no Brasil, dos padrões de remuneração a que estão submetidos e a questão de gênero nesse universo, dentre outros aspectos relevantes.
Quanto à renda, no entanto, os dados de 2014 mostram que as doutoras formadas no exterior ganham em média R$ 15.239,12, enquanto os homens com a mesma titulação recebem em média, por mês, R$ 18.250,49. Eles também estão mais presentes no mercado formal. De acordo com os dados de 2014, os últimos disponíveis, 2.825 mulheres e 5.988 homens estão empregados. Os dados consideram o total de doutores no país, formados desde 1970.
A diferença se dá, segundo a assessora técnica do CGEE Sofia Daher, entre outros fatores, pela posição ocupada pelas mulheres. "Uma das coisas que talvez explique a remuneração é o tipo de ocupação. Dirigentes, membros superiores de instituições costumam ter remuneração maior e há menos mulheres nessas posições", diz.
Ciência sem Fronteiras
Na publicação, o Programa Ciência sem Fronteiras (CsF) é citado como um dos principais programas que oferecem doutorado pleno. O programa financia mais de 3,3 mil doutorados plenos no exterior. Esses doutores não foram considerados no estudo por ainda não estarem titulados.
"O CsF fez um esforço de radicalizar a formação no exterior. Ele trabalha em vários níveis, não é um programa só de doutores. Eu acho que ele levou a um ponto único a discussão da política pública brasileira de formação, ao entendimento de que é preciso que o intercâmbio no exterior se generalize, se intensifique", diz o diretor do CGEE, Antonio Carlos Galvão.
O estudo
Para Henrique Villa, no Brasil, os pesquisadores-doutores têm papel preponderante no Sistema Nacional de CT&I, pois são, em geral, os responsáveis pela produção de conhecimento, gestão de laboratórios e orientação de jovens cientistas que chegam às principais instituições públicas e privadas que, por sua vez, são responsáveis pelo segmento no País.
A pesquisa se utiliza de informação sistematizada pelo CGEE, a partir de dados extraídos da Plataforma Lattes/CNPq e da RAIS/MTE sobre um total de 14.173 doutores titulados no exterior entre 1970 e 2014. A iniciativa visa a oferecer um conjunto expressivo de dados e informações que possam servir como subsídios para a tomada de decisão em relação a estratégias setoriais e para a formulação das políticas de ciência, tecnologia e inovação.
O estudo integra um esforço do CGEE para avaliar a formação de recursos humanos em CT&I no País e subsidiar a formulação de políticas públicas na área. Trata-se de uma atividade contínua do Centro que ainda vai gerar o estudo “Mestres e Doutores 2015”, já em sua terceira edição (“Doutores 2010” e “Mestres 2012”).
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(com informações do CGEE e da Agência Brasil)
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