22/10/2015 - 07:01h
A escrivaninha de estudo na casa de um morador de Salto (SP) anda bem ocupada. Isso porque aos 57 anos, Ricardo Guilherme Rangel resolveu buscar uma segunda graduação e, para manter a rotina de estudos, divide o tempo e os livros com o filho, de 20 anos. Apesar dos objetivos diferentes, o veterinário e Gabriel vão encarar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no fim de semana.
Veterinário, Ricardo conta que tem a intenção se dedicar ao Direito em Itu (SP), enquanto o filho busca por uma vaga em em engenharia da computação. "Para mim é uma aventura voltar a estudar e mudar totalmente de área. Agora, se eu conseguir, estou em uma fase mais confortável para me dedicar a uma vida acadêmica”, comenta o morador de Salto.
Em Entrevista ao G1, o veterinário conta que reserva boa parte do tempo de estudo para relembrar o conteúdo que já rendeu muitas pesquisas. A intenção dele não é ser um advogado, mas sim ter o conhecimento das leis.
"Atualmente trabalho no Centro de Zoonoses da cidade. Sempre me deparo com leis e tenho que perguntar para os outros. Como não tenho conhecimento, me sinto perdido. Acho que o Direito pode me fazer entender mais sobre esse universo complexo das leis. Essa é uma meta que eu tinha antes mesmo de me casar. Porém, com as atividades de rotina abandonei com o tempo”, comenta.
Conselho do mais novo
Parceiro de estudos, Gabriel Coelho Rangel lembra o pai o surpreendeu quando avisou que também seria um dos candidatos no exame. “É interessante ver ele fazendo a prova. Foi meio de repente que ele me falou e agora chegou a dar até conselhos para ele”, revela o estudante.
Segundo Ricardo, a motivação para estudar não importa a idade veio do pai, ao se formar com 40 anos. “Minha mãe poderia ter sido advogada. Ela tinha bons argumentos, mas não investiu na carreira. Já meu pai, mesmo sustentando uma casa, fez supletivo, se matriculou na Faculdade e terminou administração. Tudo sem bolsa de estudos”, lembra o veterinário que tenta passar o mesmo para o filho.
Apesar de ser a primeira vez que o filho tenta ingressar na vida acadêmica, o veterinário diz que sente satisfação em poder ter oferecido o "poder" da educação e a orientação para enfrentar desafios como o Enem.
“A única coisa que podemos dar para um filho é a educação. Podem roubar nosso carro, nosso dinheiro ou qualquer objeto, mas a educação é algo que é nosso e ninguém tira”, afirma. Conselhos que foram aproveitados por Gabriel. “Meu pai é uma das figuras mais influentes na minha vida, principalmente quando eu era mais novo”, completa.
Cabelos brancos
Em meio a salas de aula lotadas de jovens, Ricardo se diverte com olhares curiosos de quem o vê prestando provas. “Chega a ser engraçado. Eu chego e a maioria me olha e deve pensar: ‘O que será que ele está fazendo aqui?’. As pessoas ficam surpresas com alguém de cabelos brancos fazendo prova”, brinca.
Com as experiências de uma graduação e diversas situações parecidas com a quem milhões de pessoas vão enfrentar nos dias do Enem, o candidato, hoje maduro, orienta não só o filho, mas deixa uma dica para os mais jovens que buscam oportunidades por meio do estudo. “O segredo é único: não ter medo. Aprendi que devemos tentar sempre, mesmo que não dê certo, mas o importante é tentar e não abaixar a cabeça nas derrotas”, finaliza.
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