08/09/2015 - 06:01h
De forma voluntária, estudantes de sistemas de informação da Universidade Estadual de Goiás (UEG) estão ensinando programação para alunos do ensino fundamental de uma escola estadual de Ceres, a 180 km de Goiânia. O projeto Gênios de Turing – nome que homenageia o matemático e cientista da computação Alan Turing – tem o objetivo de desenvolver o raciocínio lógico e a concentração das crianças. Porém, mais do que isso, o trabalho tem mudado a autoestima e até melhorado a frequência escolar dos alunos.
As aulas acontecem no Colégio Estadual Tomaz de Aquino uma vez por semana, sempre à tarde, de forma a complementar o ensino das matérias tradicionais, que são dadas pela manhã. Durante cerca de uma hora, os 25 alunos da 4º série do ensino fundamental aprendem a programar jogos e aplicativos. Todo ensinamento é passado em uma linguagem acessível à idade deles, para que entendam o que é a programação e o que podem fazer com ela.
“Percebemos que os alunos chegam ao ensino superior com uma dificuldade muito grande de formular um raciocínio lógico de coisas simples. No ensino básico é onde as crianças estão se formando. Se a gente colocasse no ensino médio, talvez não atingiríamos o nosso objetivo”, disse um dos coordenadores do projeto, o Professor Elton Cesar Silva Morais.
Embora o projeto tenha começado há apenas um mês, os próprios alunos relatam que já melhoraram seu comportamento e também o desempenho na escola. Eles demonstram tanto prazer e entusiasmo no projeto que não tiram os olhos dos computadores nem mesmo na hora de responder as perguntas.
“Me ajudou a ficar mais quieto na sala de aula, e aqui a programação me ajuda a memorizar as coisas, pensar mais, prestar mais atenção”, disse o estudante Yan Gabriel Cunha Batista, de 10 anos. Com um sorriso tímido e desviando o olhar, ele assumiu que, antes do projeto, fazia um pouco de bagunça dentro de sala de aula.
Já Pedro Henrique espera que as aulas de programação o ajudem a melhorar as notas. “Principalmente em matemática, porque aqui usamos mais a cabeça, então, depois acaba aprendendo mais fácil”, conta.
Assim como os benefícios de aprender sobre programação estão na ponta da língua, a resposta para qual eles mais gostam, também: “Lógico que é essa. Porque aqui nós usamos os computadores, fazemos jogos, aprendemos a ter mais disciplina, prestar mais atenção”, disse sem desviar os olhos do monitor a aluna Mylenna Victória Santos Moreira, de 10 anos.
Professores também já começaram a notar a mudança nas crianças. “Eles estão gostando muito, e a gente percebe essa diferença na sala de aula, não só na matemática, mas o raciocínio lógico em todas as disciplinas. Os professores já relataram que tem contribuindo muito no aprendizado deles dentro de sala de aula”, contou a diretora da escola, Érica Lourdes de Siqueira.
O motivo para a mudança em tão pouco tempo é o fato das crianças acreditarem que não estão em uma aula. “Na cabeça deles, eles acham que vem para brincar, mas, na realidade, estão aprendendo. A gente coloca de uma forma divertida, a matemática, a disciplina, a vivencia em grupo, tudo de forma integrada, sem que as crianças percebam”, explicou Ramayane Bonacin Braga, outra coordenadora do projeto.
Gênios de Turing
A ideia do projeto surgiu ainda no ao passado. Cansados de apenas estudar e não colocar o conhecimento em prática, alunos do curso de sistemas de informação da Universidade Estadual de Goiás, entre 17 e 19 anos, decidiram criar um projeto que aproximasse a sociedade da Faculdade.
Os instrutores do projeto, todos formados em escolas públicas da região, também se basearam nas próprias experiências pessoais para levar o projeto à diante. “Quando a gente ingressou na faculdade, tivemos dificuldades com o raciocínio lógico, então a gente falava que seria muito bom se tivesse um projeto assim no início. Mesmo se tivéssemos ingressado em outra área, seria muito valioso”, disse a universitária Munike Alves Lamounie, de 18 anos e que está no 4º período do curso.
Em janeiro desse ano, decidiram apresentar a ideia a dois professores para que os ajudassem a estruturar as ideias e objetivos. Seis meses depois, tiveram a primeira conversa com a diretora da escola. “Como eu não decido nada sozinha, apresentei o programa para toda a equipe e foi aprovado por todos. Então, no dia 10 de agosto eles começaram a dar as aulas de programação”, conta a diretora da unidade.
Novos sonhos
O Colégio Estadual Tomaz de Aquino é uma unidade de ensino de tempo integral. “Nossa escola fica quase no final da cidade, é considerada de periferia, então, atende alunos que realmente precisam desses estímulos”, disse a coordenadora pedagógica Larissa de Souza Campos. Segundo ela, muitos dos estudantes não tinham grandes sonhos ou perspectivas de futuro por serem de uma escola pública.
Porém, o projeto tem ajudado a mudar essa realidade. Com o exemplo dos instrutores, que saíram de escolas públicas e estão cursando um curso superior em uma universidade também gratuita, muito já começam a sonhar com novos e melhores futuros.
“No primeiro dia, quando perguntamos o que cada um queria ser, ninguém falou nada relacionado à tecnologia. Perguntavam o que fazíamos e se dava para ganhar dinheiro com isso. Hoje, já tem quem fala quer fazer o mesmo curso que eu”, disse um dos instrutores do Gênios de Turing, Silas Augusto Alves Júnior, de 19 anos, também no 4º período de sistemas de informação.
“Quando a gente começou a pensar o projeto, nos perguntamos se íamos querer uma escola pública ou particular. Optamos pela escola pública por ser uma escola de todos. Nós viemos de escola pública, então, conhecemos as dificuldades e necessidades”, completou a estudante Munike.
Frequência melhor
Em um mês, também já foi possível ver que a frequência escolar dos alunos da 4º série já melhorou. “Como o dia das aulas de programação muda a cada semana, eles nunca sabem quando vai ter. Então, eles não querem faltar de jeito nenhum para não ter o risco de perder as atividades. E isso é muito legal para a gente”, disse Silas.
Tal vontade de não perder nenhum dia de aula também deixou pais intrigados. “Um dia, uma tia ligou querendo saber o que era o projeto, porque a menina estava com febre e precisava ser levada ao médico, mas, mesmo doente, ela não queria ir ao posto de saúde porque falava que tinha um projeto importante na escola e não podia faltar”, contou de maneira bem humorada a coordenadora pedagógica.
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