27/11/2015 - 04:01h
O diploma da universidade é sinal de conquista, estudo e uma etapa importante vencida. Para Virlei Primo Júnior, primeiro médico a entrar pelo Vestibular Indígena do Paraná a se formar pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), na região norte, a formatura é uma vitória contra o preconceito e dificuldades sócio educacionais impostas ao longo do curso.
Virlei pertencente à etnia Guarani Nhandewa, da Terra Indígena Laranjinha, em Santa Amélia, e desde os 11 anos sonhava em fazer medicina, no entanto acreditava que não seria possível. Mas, quando a UEM adotou o Vestibular Indígena, ele não pensou duas vezes e agarrou a oportunidade.
No início não foi fácil. O preconceito dos colegas, o choque cultural e dificuldades de aprendizado trazidas desde o ensino básico foram barreiras que quase impediram o indígena de chegar a formatura.
“Entrei na universidade por um sistema diferente, então a aceitação foi complicada. Ao longo do tempo, depois de batalhar muito, conquistei espaço e respeito de toda a comunidade acadêmica. Foram anos difíceis, período que só tive apoio de dois colegas de turma que me ensinaram conceitos básicos e me fizeram avançar no curso. Perseverei e realizei um sonho. A formatura significa mais do uma simples vitória”, analisa o recém-formado.
Cada universidade estadual oferece vagas sobressalentes para esse processo seletivo. Essas vagas não fazem parte do vestibular regular promovido por cada instituição e o número de concorrentes também é diferente. Os índios interessados participam do vestibular e são acompanhados durante todo o curso pela Comissão Universidade dos Índios (Cuia).
A Cuia incentivou o desenvolvimento e permanência de Virlei no curso superior. “A Cuia me ajudou a enfrentar o descaso, a descriminação, me deu apoio. A perseverança e o incentivo da minha família fizeram com que eu chegasse até aqui”, salienta.
A presidente estadual da Cuia Isabel Cristina Rodrigues, afirma que a conquista de Virlei é uma vitória coletiva. Segundo ela, os indígenas entram na universidade com uma percepção de mundo diferente, em um ambiente propenso a excluir as minorias. A entrega desse diploma dá sustentação psicológica, afetiva e política a comunidade indígena.
“O Virlei é um exemplo para a sua etnia e também para toda a comunidade. Mostra que todo o investimento feito vale a pena. Com ele, temos apenas três indígenas que entraram por esse sistema e se formaram em medicina no Paraná. A formatura mostra que todas as Universidades devem repensar as práticas docentes, pois esses alunos são diferentes. Há uma multiplicidade de pessoas presentes na universidade, por isso o aprendizado é constante”, garante Isabel.
O coordenador do curso de medicina da UEM, Carlos Edmundo Fontes, conta que a presença de Virlei no curso foi um desafio, mas também foi enriquecedora. Ao ter um indígena como aluno, todos, alunos e professores, aprenderam a respeitar a diversidade.
“Ele não teve facilidades e precisou comprovar as mesmas competências que seus colegas de turma para ser aprovado. Agora ele é uma pessoa mais segura e madura”, destaca o Professor.
A UEM já formou 12 estudantes indígenas desde 2005. Cinco terminaram enfermagem, quatro concluíram pedagogia, um conquistou o diploma de direito e um de ciências sociais. No Paraná, duas índias, que entraram por meio do Vestibular Indígena, concluíram o curso de medicina na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e na Universidade do Oeste do Paraná (Unioeste).
Com a graduação completa, Virlei vai tentar, já no próximo mês, uma vaga no programa de residência médica em Medicina da Família e Comunidade, ofertado pela própria UEM. O recém-formado pretende trabalhar com a população indígena assim que terminar a especialização.
“Eu gosto de conversar com os pacientes, de entender o que e por que eles sentem determinadas dores. Quero trabalhar para fazer uma medicina com qualidade, integradora e sem preconceito. O paciente precisa da nossa ajuda, assim como nós precisamos deles”, encerra o médico Virlei Primo Júnior.
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