29/01/2014 - 18:53h
Por Dr. André Felício
Todos conhecem a aquela cena típica da criança entrando na sala de aula ou em casa e provocando aquela confusão porque fica andando para lá e para cá, não dá ouvidos aos pais e professores, etc. Este é o protótipo do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, uma condição que, por incrível que pareça, não é incomum em adultos que ficaram “esquecidos” no tempo, sem tratamento e, pior, sem diagnóstico.
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade pode apresentar, basicamente, três espectros. O primeiro, em que predomina a hiperatividade; o segundo, a desatenção; e o terceiro, uma combinação de ambos. Além disto, existe uma associação muito frequente desta condição com outras doenças neuropsiquiátricas.
O ponto principal aqui, porém, diz respeito aos adultos com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade que ficaram “esquecidos” no tempo. E não foi à toa que usei a palavra “esquecido”. Primeiro, porque a apresentação clínica mais comum desta condição no adulto se caracteriza pela falta de atenção e não hiperatividade, ou seja, os pacientes com mais de 18 anos de idade e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade irão sempre comentar sobre sua “memória ruim” e “dificuldade para se concentrar”. Segundo, digo “esquecido” porque estes pacientes muitas vezes acabam procurando o médico que não se lembra desta possibilidade, ou são rotulados por familiares e amigos como alguém com “memória fraca”.
Outro dado que mencionei acima diz respeito à associação do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade com outras condições, por exemplo, ansiedade, depressão, insônia, transtornos do sono. O que me preocupa aqui, na verdade, seria outro ponto, que é também a maior frequência de uso abuso de drogas ilícitas ou lícitas nesta população. Se por um lado algumas drogas como a maconha ou mesmo o álcool, cujo efeito ansiolítico e sonífero de curto prazo poderia ajudar estes pacientes a dormir e a reduzir a ansiedade, por outro, o seu uso/abuso crônico irá prejudicar justamente o ponto mais crítico destes pacientes, ou seja, as funções cognitivas, como a memória e a atenção.
Logo, é preciso lembrar que existem inúmeros adultos jovens, literalmente “esquecidos”, com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. E esta história poderia ser diferente, mas requer mais atenção dos médicos, familiares e população em geral que serão os responsáveis pelo reconhecimento do problema.
Dr. André Felício, CRM 109.665, neurologista, doutorado pela UNIFESP/SP, pós-doutorado pela University of British Columbia/Canadá, e médico pesquisador do Hospital Israelita Albert Einstein/SP
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