08/12/2014 - 06:01h
Junior Lago/UOL
Apenas as cotas raciais para a entrada no ensino superior não garantem igualdade entre negros e brancos a longo prazo, avalia José Vicente, doutor em educação e reitor da Universidade Zumbi dos Palmares.
"As cotas são uma ilusão do fim do problema porque o problema no fundo não são as cotas, e sim a igualização", analisa. "As cotas cumprem um objetivo importante, que é mudar o paradigma e criar caminhos alternativos, mas em longo prazo não respondem às necessidades nem dos negros nem do Brasil em relação à igualdade."
Vicente acredita que, além das cotas, são necessárias outras medidas universais e pontuais que, no seu conjunto, ajudariam a diminuir o grau de desigualdade entre negros e não-negros no país. Entre elas, aumentar o número de negros nos espaços em que se decide a vida nacional, como no Congresso, e encaminhar os jovens que já estão no ensino superior para o ambiente corporativo.
"A partir do Prouni, Fies, Pronatec e cotas, nós chegamos a 700 mil jovens negros no ensino superior. Antes se falava que não contratava negro porque não era qualificado, mas agora temos quase um milhão", analisa."Precisamos produzir políticas públicas para que esse grupo que cumpriu o requisito entre no Mercado De Trabalho."
Em 2012, duas obras do escritor Monteiro Lobato foram alvo de polêmica por conterem passagens racistas. Entre os trechos que justificariam a conclusão de racismo em "Caçadas de Pedrinho" estão alguns em que Tia Nastácia é chamada de negra e comparada a uma "macaca de carvão".
José Vicente acredita que este tipo de obra não deveria ser distribuída na rede de ensino. "Se nós somos uma sociedade que define o racismo como algo odioso, que construímos legislações para combater todo tipo de manifestação do racismo, e se temos obras que estimulam isso, devemos mantê-las? Parece que há um contrassenso", afirma.
Para o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, é necessária a contextualização histórica caso tais obras continuem sendo utilizadas em escolas. "Creio que devemos manter o registro dos tempos, mas precisamos contextualizá-lo para um fundamento que a sociedade escolheu como virtude", afirma.
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