23/02/2015 - 15:01h
Professores da rede pública fecham o Eixo Monumental em frente ao Palácio do Buriti, em Brasília (Foto: TV Globo/Reprodução)
Professores da rede pública de ensino do Distrito Federal aprovaram no início da tarde desta segunda-feira (23), em assembleia em frente ao Palácio do Buriti, fazer uma paralisação até a próxima sexta-feira (27). A categoria optou pela paralisação em protesto contra atrasos no abono de férias e de parte do 13º salário, redução do número de coordenadores e alteração no calendário escolar.
A paralisação afeta 470 mil alunos das escolas públicas do DF. A rede tem 27 mil professores, já incluindo 3,5 mil temporários. As aulas deveriam ter sido retomadas nesta segunda, após terem o início adiado pelo GDF por duas semanas.
Pouco antes da aprovação da greve, o governador Rodrigo Rollemberg disse esperar que os professores retornassem ao trabalho nesta terça para dar início ao ano letivo. "Nós temos um conjunto de secretários que estão dialogando com os professores desde o início do ano. A nossa expectativa é que amanhã [terça] possa ter um retorno normal às aulas, e estamos fazendo todo esforço possível para que o mais rápido possível possamos pagar os atrasados", declarou.
De acordo com a Polícia Militar, entre 5 mil e 6 mil professores ocuparam o Eixo Monumental no início da tarde. Eles faziam uma assembleia na praça em frente ao palácio para decidir se entram em greve, mas a reunião foi suspensa porque uma comissão se reuniu com o secretário da Casa Civil, Hélio Doyle, para discutir uma solução ao impasse. Após a reunião, os servidores vão retomar a discussão
Foram convocados 240 policiais militares para reforçar a segurança no local, dos quais 30 são do Bope. "Tentamos negociar com eles para não fecharem a via, por não ser a melhor saída, mas eles são 5 mil, e nós, 200", disse o coronel Marcio Vasconcelos, responsável pela operação.
As aulas dos 470 mil estudantes começaram com atraso de duas semanas. O secretário de Educação, Júlio Gregório, justificou a mudança no cronograma escolar dizendo que precisava reformar parte das 657 unidades de ensino. Até este fim de semana, segundo ele, 259 haviam passado por intervenções. Outras 77 devem ter reparos mais simples realizados ao longo do ano.
A mudança desagradou professores, que dizem que o calendário foi imposto arbitrariamente e trouxe prejuízos a estudantes e funcionários da área. Com a alteração, as aulas passam a terminar em 29 de dezembro e o recesso de meio de ano, que coincide com o período de seca, fica encurtado.
"Há uma insatisfação com tudo isso. Não são só as pendências financeiras", declarou a diretora do Sindicato dos Professores Rosilene Correa. "Algumas outras medidas do governo, como a redução do número de coordenadores pedagógicos e o fato de nem todas as escolas passarem por reforma, apesar do adiamento, também trouxeram esse sentimento."
A Secretaria de Educação informou que cada uma das 14 coordenações regionais de Ensino está fazendo o levantamento da situação nas escolas para a área de planejamento. A pasta também disse ser necessário aguardar a decisão da assembleia para se posicionar sobre o assunto.
O DF tem 27 mil professores na rede pública, incluindo os 3,5 mil contratados temporariamente para cobrir as carências no início deste ano. A estimativa é que outros 3 mil precisem ser chamados ao longo de 2015 para suprir déficits com futuras licenças.
Crise administrativa
O pagamento dos salários, 13º e férias de servidores da Educação e da Saúde foi afetado no final da gestão Agnelo Queiroz. Secretário de Administração à época, Wilmar Lacerda declarou que a arrecadação menor do que a esperada se refletiu nos atrasos nos vencimentos e na manutenção de serviços.
Com isso, professores cruzaram os braços e fecharam o Eixo Monumental em várias ocasiões ao longo de dezembro. Todas as escolas do DF foram atingidas, parcial ou totalmente, e milhares de alunos tiveram de ser dispensados por causa da ausência dos profissionais.
As dificuldades afetaram várias outras áreas. Na Saúde, o governo decidiu remanejar R$ 84 milhões de convênios com o governo federal ?" incluindo o fomento a programas de combate e prevenção a doenças como dengue e Aids, que apresentaram indicadores ruins neste ano ?" para pagar dívidas com fornecedores e reabastecer a rede pública da capital do país com medicamentos e materiais hospitalares.
A crise também afetou os serviços de manutenção de gramados, plantio e limpeza de canteiros ornamentais, além da poda de árvores, que foram suspensos por falta de verba. Quatro empresas ?" Coopercam, EBF, Tria e FCB ?" eram responsáveis pela atividade, com aproximadamente 500 trabalhadores. Elas também eram responsáveis por fornecer equipamentos e transporte dos funcionários.
A Novacap anunciou a suspensão da segunda fase do ?Asfalto Novo?, programa de recapeamento em vias urbanas do Distrito Federal. O motivo apontado também foi falta de dinheiro. A companhia afirmou na ocasião que ainda restavam 2 mil quilômetros de pistas a receberem obras.
A crise também afetou o transporte público. Motoristas e cobradores de quatro das cinco empresas de ônibus cruzaram os braços por três por não receberem o 13º salário e outros benefícios. O DFTrans repassou R$ 35 milhões para as viações, para garantir a retomada dos serviços. No período, 700 mil pessoas foram prejudicadas.
Além disso, sem verba disponível, o governo cortou obras em escola e alimentação de presidiários para realizar festa de réveillon na Esplanada dos Ministérios. O evento foi orçado em R$ 1,6 milhão e teve como principais atrações a dupla de sertanejo Universitário Thaeme e Thiago o cantor de "funk ostentação" MC Gui.
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