17/02/2016 - 00:03h
Os 76 mil alunos do Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano) da rede municipal de ensino de Salvador receberam livros de matemática e português que traduzem a cultura e os saberes locais.
A distribuição iniciada na segunda (15) é resultado de uma parceria inédita entre a Secretaria Municipal de Educação e o Icep (Instituto Chapada de Pesquisa e Educação).
Elaborados pelo instituto em conjunto com 2.080 educadores, os cadernos didáticos inovam ao transformar Professores em colaboradores na concepção do material.
O projeto, denominado Nossa Rede, vai impactar a vida dos alunos e de 4.500 professores, 600 coordenadores pedagógicos e 332 gestores escolares.
"É o empoderamento dos educadores como coparticipantes", diz Cybele Amado, presidente do Icep..
Uma das inovações é organizar o material em programas didáticos com temas locais. Um exemplo é o capítulo de matemática que traz o Projeto Tamar –que atua na preservação de tartarugas marinhas no litoral baiano– no meio de números e fórmulas.
"Tudo que as crianças vão produzir não estará distante do que precisam aprender para estar no mundo", explica Cybele.
A identidade cultural é uma marca dos livros. A presidente do Icep diz que o material se aprofunda na cultura de Salvador e da Bahia. Ela cita o exemplo do uso do Museu Geológico da Bahia para usar as pedras que fazem parte do acervo no ensino de lógica.
CASAMENTO BEM-SUCEDIDO
Em junho de 2015, Cybele Amado foi procurada pelo secretário municipal de Educação, Guilherme Bellintani, que ouvia falar do Icep de maneira recorrente em suas visitas às escolas de Salvador desde que assumiu a pasta, em janeiro do ano passado.
O Icep busca, desde 1997, contribuir para a melhoria da qualidade da educação pública e mobilizar redes colaborativas.
O trabalho de Cybele Amado a consagrou vencedora do Prêmio Empreendedor Social em 2012 e hoje a educadora integra a Rede Folha de Empreendedores Socioambientais.
Mesmo antes de assinar contrato de parceria, a equipe do instituto realizou uma consulta pública por meio de seminários com os educadores da rede de ensino nas dez regionais de educação de Salvador. Participaram 1.200 profissionais da área.
A professora Lorena Costa, da Escola Municipal Deputado Gersino Coelho, integrou o trabalho colaborativo.
"Teve esse momento de escutar o Professor que está na sala de aula e saber qual é sua necessidade", diz.
Esse envolvimento direto com o educador é o que garante o pioneirismo da iniciativa. "Não conheço experiência no Brasil que discute, com os professores, o que se ensina", afirma Cybele Amado.
De julho a novembro, o trabalho foi construir o primeiro exemplar do material pedagógico com a colaboração dos profissionais de Salvador e educadores experientes de outras regiões do país.
O secretário afirma que o poder público e o Icep procuraram a convergência de ideias para que a parceria desse certo. "Foi um casamento bem-sucedido", brinca.
APRIMORANDO AS DEFICIÊNCIAS
Falta de interesse dos alunos pelo material didático, pouca identificação com a realidade nele retratada e professores com problemas de orientação pedagógica eram os principais problemas nos livros usados até 2015.
Bellintani afirma que o material didático antigo trazia problemas clássicos dos projetos pedagógicos. "Eles não são frutos da própria rede, têm elementos técnicos que não asseguram a relação ensino/aprendizagem e não refletem a realidade do município."
Essa falta de identificação também é apontada pela professora Lorena Costa. Na rede de ensino há dez anos, ela relata que o material não entusiasmava os alunos.
"Os livros didáticos trazem a cultura do Sul e do Sudeste. Os alunos não tinham interesse porque não havia um diálogo com a realidade deles", afirma.
A orientação ao professor é outro diferencial dos livros didáticos. A presidente do Icep relata que não é difícil encontrar um caso em que uma turma tenha diferentes níveis de alfabetização.
"No Brasil, existem dificuldades enormes na alfabetização plena dos estudantes. Ainda é inovação que eles tenham essa formação na idade certa. Os materiais tradicionais não orientam o educador quanto a isso", afirma Cybele Amado.
O INVESTIMENTO
O secretário de educação mostra a diferença do gasto entre o material didático tradicional e o elaborado em conjunto com o Icep.
Enquanto a compra de livros representa um gasto de R$ 12 milhões ao ano, o projeto Nossa Rede custou R$ 6,3 milhões, investidos na elaboração do caderno com o instituto. Outros R$ 2,9 milhões foram gastos com impressão.
"A partir do ano que vem, teremos que usar só o dinheiro da impressão porque o livro já está pronto", explica Bellintani.
Ainda em 2016, serão distribuídos um caderno por bimestre para cada disciplina, pois o material está em constante avaliação e modificação.
Os Grupos de Trabalho se reúnem mensalmente para continuar a elaboração.
"Revisão e atualização de material também é formação", afirma Cybele Amado.
A presidente do Icep explica que, em 2017, os alunos terão um livro para o ano inteiro, após uma análise feita em conjunto com os educadores no fim de 2016.
Conheça o trabalho do Icep.
ICEP - Instituto Chapada de Educação e Pesquisa
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