19/08/2015 - 16:02h
Especialistas do mercado de capitais afirmam que é essencial restabelecer a confiança
Solange Sólon Borges, Agência Indusnet Fiesp
Com o tema do papel do mercado de capitais como indutor do desenvolvimento econômico, no encontro do Conselho de Estudos Avançados (Consea), dia 17 de agosto, a sinalização principal dos participantes se centrou no restabelecimento da confiança no mercado e na economia como um todo.
Para Roberto Teixeira da Costa – membro do Conselho de Administração da Sul América S/A –, é difícil conviver com os juros atuais. “É preciso ter confiança na moeda para se investir no futuro, caso contrário, fica-se no curto prazo”, afirmou. O ministro Joaquim Levy, da Fazenda, não tem tratado do mercado de capitais, criticou Costa, “que é um mercado vital, e garantir sua liquidez é fundamental”. Em sua avaliação, o mercado hoje não tem consistência nem escala, diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, e a opção do empresariado acaba sendo realizar investimentos externos.
“Às vezes se confunde o mercado de capitais com a vitalidade do mercado brasileiro, com títulos do governo e fundos de investimento. Hoje o total do fundo de investimentos do País é de R$ 2,7 trilhões, mas se investem apenas 6% no mercado de ações ou fundos de renda variável”, informou. Um dos problemas sinalizados é que o empresário, quando não investe no seu próprio negócio acaba apostando no de um terceiro. As três fontes de um empresário para crescer são a retenção de lucros, empréstimos e mercado de capitais médio e longo prazo. Por isto, “o mercado tem sofrido muito, uma vez que o trinômio de investimento é segurança, rentabilidade e liquidez”, contextualizou, questionando como vamos construir o futuro sem olhar com cuidado para o mercado de capitais.
Edemir Pinto, presidente da BM&F, reforçou a avaliação de Costa de que sem confiança não há investimento possível e ilustrou que hoje se fazem 850 mil negócios/dia com volume médio diário de mais de R$ 5 bilhões, sendo que as empresas listadas na Bolsa de Valores têm valor de mercado da ordem de R$ 2,3 trilhões (dado de junho de 2015). Do total de valor de mercado, 66% são compostos por 183 companhias que têm governança diferenciada e representam 78% do volume financeiro do segmento de ações.
Diante deste gigantismo, houve a modernização das bolsas, não somente em termos de tecnologia, mas também com a consolidação das dezoito antes existentes agora consolidadas na Bovespa e na BM&F, que contam, inclusive, com investidores de 62 países. “Hoje o Brasil é referência em segurança para investidores de todo o mundo após realizar a regulação de mercados. Há ainda 39 estatais na Bolsa, representando 32% do seu volume total”, explicou.
Este crescimento é importante para o ajuste fiscal e a queda da carga da dívida bruta frente ao Produto Interno Bruto (PIB), concordou Carlos Antonio Rocca, diretor do Cemec (Centro de Estudos do Ibmec), mas a taxa real de juros continua sendo o maior desafio. Outro ponto de atenção é que “estamos dirigindo cada vez mais a fatia para financiar o governo e sobra menos para financiar o setor privado e os investimentos”.
Desde 2013 houve forte queda do financiamento privado de infraestrutura do mercado de capitais. Um verdadeiro “desabamento” no primeiro trimestre deste ano de quase 7% em comparação com o mesmo período de 2014, avaliou Rocca. “O mundo todo aponta que a retomada de crescimento se dá com investimentos em infraestrutura, e o Brasil, com o atual cenário, não é competitivo, mas isto é essencial para antecipar a recuperação da economia”, enfatizou, solicitando segurança jurídica e regulatória, além de forte concorrência nos leilões.
O especialista lista o que o setor privado tem a seu favor quando o tema é infraestrutura: recursos de poupança, capacidade de execução e governança. Por isto, o melhor mecanismo para a execução de projetos seria a Parceria Público Privada (PPP), e não a concessão, assim se obteria a sinergia necessária com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A palavra-chave restabelecer a confiança foi utilizada pelos três expositores, e o presidente do Consea, Ruy Martins Altenfelder, questionou como elevar a confiança brasileira diante das manifestações ocorridas na véspera (16) contra a corrupção e a atual crise do País e, ao mesmo tempo, incentivar a população a confiar naqueles que privilegiam o combate à corrupção.
Para Costa, “vivíamos fora da realidade, mas é preciso saber entender este momento. As instituições estão funcionando. O maior inimigo do mercado é a corrupção. A honestidade não foi feita para ser premiada, é uma questão de princípio”. Na avaliação de Edemir Pinto, confiança tem relação direta com atitude e, segundo Rocca, é necessário colocar governança especialmente nas estatais, pois a confiança é essencial para os investimentos a longo prazo.
Altenfelder concluiu que há uma revolução em curso na área jurídica, que é geracional. Os que ingressam no Ministério Público contam, em sua bagagem, com o apoio da tecnologia da informação. O mesmo ocorre com o trabalho da Polícia Federal. Na Magistratura, os novos integrantes igualmente privilegiam a tecnologia da informação no combate à corrupção, mesmo cenário vivido pelos jovens advogados.
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