02/03/2015 - 14:01h
Além da ação judicial, os estudantes promoveram uma invasão da reitoria de Harvard (Foto: Divulgação/Harvard/BBC)
Além da ação judicial, os estudantes promoveram uma invasão da reitoria de Harvard
Harvard, a universidade americana que é também uma das mais prestigiadas instituições de ensino do mundo, tem mais de 20 mil alunos.
Mas sete deles se tornaram uma pedra no sapato para os administradores.
Em novembro do ano passado, eles entraram com uma ação na Justiça com a qual pretendem pressionar a universidade a deixar de investir em empresas de gás e petróleo, sob a alegação de que Harvard estaria contribuindo para mudanças climáticas.
Como muitas outras universidades, Harvard tem o que inglês é conhecido como um endowment, capital formado basicamente por doações de ex-alunos ao longo da história e que é investido em áreas distintas para gerar mais receita.
Persuasão x interferência
Harvard tem um fundo estimado em US$ 36,4 bilhões. Se fosse um país, seria a 90ª economia do mundo.
Para o grupo de estudantes, ao financiar operações de empresas petrolíferas, por exemplo, Harvard está afetando a vida de seus estudantes e de gerações vindouras. E precisa se distanciar dessas indústrias.
São poucos, mas fazem barulho: por meio das redes sociais, convocaram o corpo Universitário para eventos de protesto e "desobediência civil", incluindo uma ocupação da reitoria de Harvard.
Mais de 200 Professores já se juntaram à causa por meio de uma carta aberta em que cobram da universidade uma "responsabilidade ética".
Harvard, num comunicado enviado à BBC Mundo, afirmou respeitar o ponto de vista dos manifestantes, mas criticou as ocupações como uma "forma altamente perturbadora de promover suas opiniões".
"Essas táticas cruzam a linha entre persuasão e um interferência desrespeitosa e coerciva", dizia o texto.
A universidade tem reservas que passam de US$ 36 bilhões, maior do que a economia de muitos países
Para os estudantes e professores, a universidade não seria afetada financeiramente se interrompesse os investimentos nessas companhias.
Eles argumentam que a instituição mandaria uma importante mensagem política e moral graças a seu prestígio internacional.
Desenvestimentos
"Harvard está dando respaldo a um modelo de indústria que está extraindo e queimando combustíveis fósseis em níveis que ameaçam o futuro do planeta e as pessoas que nele vivem", disse à BBC Mundo um dos sete estudantes responsáveis pela ação judicial.
A universidade alega que seus investimentos fazem parte de sua política educacional e não acredita que "deixar a indústria de combustíveis fósseis seja a resposta apropriada".
A Universidade de Stanford foi uma instituição que parou de investir na indústria petrolífera
Harvard, porém, reconhece que o aquecimento global é um dos "problemas mais urgentes e sérios do mundo", mas explica que prefere combatê-lo com a investigação científica, a educação e a redução de sua "pegada de carbono".
A recusa de Harvard vai na contramão de uma tendência de desenvestimentos adotadas nos últimos anos por uma série de organizações, incluindo a família Rockfeller, que fez fortuna com o petróleo, e outra prestigiada universidade americana, Stanford, que em 2014 anunciou o fim de investimentos em 100 companhias ligadas à "indústria do carbono".
Entretanto, já houve ocasiões em que Harvard cancelou investimentos. Nos anos 80 e 90, por exemplo, deixou de investir em companhias sul-africanas, por causa do apartheid, e na indústria tabagista.
Já o movimento contra combustíveis fósseis teve início em 2011 em algumas Universidades americanas e hoje teria chegado a a mais de 500 instituições em todo o mundo, segundo a campanha US Fossil Free.
E uma pesquisa da Universidade de Oxford afirma que o lobby contra combustíveis fósseis está avançando de maneira mais rápida que campanhas contra o tabaco, as armas de fogo e a pornografia, por exemplo.
A ação contra Harvard está sendo julgada numa corte do estado americano de Massachussetts.
12/08/2022 27/07/2022 25/07/2022 22/03/2022 05/01/2022