24/06/2014 - 11:10h
Inteligência Artificial (IA) é uma expressão criada, em 1955, pelo cientista da computação e matemático americano John McCarthy. O conceito significa que máquinas e computadores possuem uma percepção da natureza que os rodeia e podem ter ações que maximizem seus sucessos como programas. O termo voltou a ganhar popularidade depois que Eugene Goostman passou em um Teste de Turing, com perguntas e respostas.
Inteligência Artificial é um assunto da moda, mas a expressão existe desde 1955 (Foto: Reprodução/Creative Commons)
Eugene Goostman é, na verdade, um script
Eugene é o que chamamos de script, um programa de linguagem que consegue interpretar linhas de texto ou comandos que sejam emitidos por outros scripts ou humanos através de um computador. Nas primeiras notícias que vieram da Universidade de Reading, Eugene Goostman teria passado no Teste de Turing e poderia ser uma inteligência artificial compatível com a de um humano com 13 anos. O script também foi descrito como um “super computador”, o que causou um pouco de confusão. Ele é, na verdade, um programa avançado com uma inteligência baseada em comportamentos humanos, não propriamente uma máquina, como o seu PC desktop.
O feito do modelo foi responder a 33% das perguntas de 30 jurados da Universidade de Reading como se fosse um adolescente nascido em 2001, em São Petersburgo, na Rússia, segundo seus criadores. O script foi desenvolvido pelo russo Vladimir Veselov, que hoje vive nos Estados Unidos, e por um ucraniano que mora na Rússia, Eugene Demchenko.
O ingês Alan Turing criou o teste com programas e estabeleceu uma porcentagem de 30% para definir o grau de inteligência de um software. Caso essa tecnologia tivesse uma resposta superior a este valor, em uma interação de perguntas e respostas, enganando quem esteja fazendo as perguntas, ele poderia ser uma máquina inteligente artificialmente. Foi isto que supostamente aconteceu na Universidade de Reading, em um teste com mais cinco máquinas.
O programa Eugene Goostman virou assunto no Reino Unido (Foto: Reprodução)
Especialistas questionam se Eugene realmente passou no teste
O engenheiro de software David Auerbach, em artigo para a revista Slate, frisou que os avaliadores de Eugene ainda não liberaram as conversas do Teste de Turing. Ou seja, não é possível saber como o script foi de fato avaliado ou mesmo se o programa apresenta traços de inteligência como são aceitos em ciência tecnológica.
No entanto, Auerbach teve acesso a outras conversas de Eugene Goostman. Em uma versão mais antiga do software, de 2012, é possível tirar algumas conclusões sobre o programa.
“Avaliador: Olá, como estará o clima amanhã?
Eugene: Na minha terra natal, as pessoas dizem que meteorologistas são como engenheiros militares: Eles cometem um erro apenas uma vez, mas a diferença é que os militares erram uma vez na vida e meteorologistas – diariamente. Você está curtindo a temperatura hoje?”
Nesta pergunta, Eugene Goostman dá uma resposta sofisticada, mas pobre em termos de software: ele entende a palavra clima, faz uma piada entre meteorologistas e engenheiros militares e em seguida desconversa. Se o avaliador gostou da resposta do script, pode ser que ele acredite que é um ser humano. Mas muitos bots em redes sociais, como o Twitter, possuem uma resposta semelhante, o que ainda é distante de uma Inteligência Artificial.
Observe outra pergunta e outra resposta de Eugene:
“Avaliador: Você gosta de futebol?
Eugene: Alguém odeia isso? Vamos falar de outro assunto?
Avaliador: Você assistirá ao jogo de futebol no domingo?
Eugene: Eu me exercito às vezes. No computador. Mas prefiro correr”.
Nas duas respostas acima fica mais claro que Eugene pode ser apenas um script de programa comum, não uma tecnologia com inteligência própria, próxima do ser humano e capaz de passar no Teste de Turing. Eugene não entende a palavra “futebol” e tenta mudar de assunto. Quando o entrevistador insiste na pergunta, ele busca uma palavra similar – “esporte” – e dá uma resposta padrão.
Claro que essa pode ser uma versão desatualizada do computador. É possível que ele tenha passado por atualizações até o teste mais recente, no Reino Unido. No entanto, os exemplos de David Auerbach levantam dúvidas sobre a seriedade do Teste de Turing aplicado.
Outros acadêmicos também refutaram o teste da Universidade de Reading, como Graeme Hirst, da Universidade de Toronto. Ele disse que não acredita na descoberta e não vê sentido no Teste de Turing aplicado nos dias atuais à CTV News. Para o acadêmico, Alan Turing não falou nada sobre 30%, e sim sobre 50% de perguntas certas e desenvolvidas por software.
Hirst ainda completou dizendo que o computador IBM, Watson, foi o que chegou mais próximo de uma Inteligência Artificial, ao vencer o jogo Jeopardy!, de perguntas e respostas na televisão. A máquina conseguiu um resultado superior ao dos campeões do show Brad Rutter e Ken Jennings. “O resultado do IBM Watson foi o mais próximo de um resultado positivo em um teste similar ao de Turing”, frisou Hirst.
Então, existe alguma Inteligência Artificial?
Existem alguns experimentos. Um deles é o robô Kismet, criado no final da década de 1990 no MIT, nos Estados Unidos. Desenvolvido pela professora Cynthia Breazeal, a máquina possui expressões rudimentares de emoção que se desenvolvem automaticamente, movendo pescoço, olhos, sobrancelhas, lábios, orelhas e toda a cabeça.
O fundamental desta tecnologia robótica é que o programa se desenvolve automaticamente, sem a necessidade de intervenção humana. Este é o conceito central de Inteligência Artificial, embora não possamos saber se ele passaria num Teste de Turing. As peças físicas do Kismet têm custo estimado em US$ 25 mil (cerca de R$ 56.300) e ele é apontado como uma “inteligência social”.
Drones, embora sejam apontados como o futuro da robótica, não são considerados normalmente como máquinas dotadas de Inteligência Artificial. O motivo? Eles são programados para fazer determinadas ações, mas não implementam decisões de forma autônoma ou visando aperfeiçoar seu próprio desempenho. Futuramente, poderão ser feitos experimentos de IA em drones, mas este ainda não é o presente.
Um computador realmente dotado de Inteligência Artificial é o IBM Watson, mencionado pelo Professor Graeme Hirst. A ideia de Watson surgiu em 2004, para competir no programa de TV Jeorpardy!. O dispositivo não apenas correlaciona palavras, mas também aprende à medida que busca responder perguntas de humanos, diferente de programas de voz como Siri, da Apple, que trabalha frases-padrão reconhecendo algumas palavras.
Criado por Jim de Piante dentro da IBM, Watson na verdade é uma continuação do computador Deep Blue, que derrotou o russo Gary Kasparov em uma partida de xadrez, no ano de 1997. A IA venceu os campeões do programa Jeorpardy! em 14 de fevereiro de 2011. Depois, Watson chegou a fazer parte da equipe de diagnóstico do sistema de seguros de saúde WellPoint, em 2012, analisando 200 milhões de páginas de dados para responder qualquer dúvida dos documentos em menos de três segundos.
Essa Inteligência Artificial da IBM já foi implementada para funcionar em rede na nuvem, e também está acessível via smartphones. Seu crescimento cognitivo permite que ele responda individualmente às pessoas e também compreenda nuances de linguagem que não eram possíveis anteriormente. A IBM fornece o Watson como solução corporativa de negócios, em vários ramos de atuação: Finanças, gestão pública, comércio e saúde.
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Segundo Mike Rhodin, vice-presidente sênior da IBM, a empresa pretende levar o computador para o Brasil neste ano, para reconhecer oportunidades de negócio e fechar contratos. O computador dotado de IA gera US$ 100 milhões (cerca de R$ 225.280 milhões) de resultado, com 1,4 milhão de funcionários dedicados ao projeto. A IBM prevê dois mil profissionais envolvidos com o Watson até o final deste ano.
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