29/11/2013 - 09:40h
Era uma vez dois irmãos que adoravam uma boa história, principalmente aquelas que, de boca em boca, atravessavam gerações, traduziam desejos e emoções e tocavam a alma das pessoas. Para que essas narrativas não fossem apagadas pelo tempo (ou por alguma bruxa má), eles resolveram reuni-las em um livro.
Foi assim que, em dezembro de 1812, os irmãos Jacob (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859) publicaram a primeira versão de Contos maravilhosos infantis e domésticos. Em 86 narrativas, desfilavam princesas, reis, bruxas, animais falantes, duendes e outras criaturas fantásticas.
Colhidos no estado de Hessen, onde os irmãos nasceram, esses primeiros relatos traziam a magia, o humor e o encantamento típicos dos contos de fadas, mas também doses espantosas de crueldade, violência e pulsão sexual.
Enquanto Jacob, o irmão mais velho e mentor do projeto, tinha em mente a função acadêmica que a coletânea poderia alcançar, Wilhelm focava os jovens leitores e tinha uma preocupação estética e estilística ao transcrever os contos.
Ainda assim, a intenção da dupla era criar um registro que ajudasse a preservar a tradição alemã e, por isso, procurava manter intacto o cerne de cada relato. No entanto, o sucesso que o livro acabou alcançando entre as crianças fez com que os irmãos passassem a adequar as narrativas ao público infantil nas várias edições que vieram em seguida.
Três anos depois do primeiro livro, os Grimm lançaram um segundo volume com 72 novos contos. Depois, em 1822, publicaram uma edição consolidada que totalizava 156 histórias.
A busca pelo aperfeiçoamento do trabalho foi intensa nos anos seguintes. Eles reescreveram, revisaram e padronizaram as histórias. Também completaram trechos fragmentados e suavizaram contradições. Além disso, a cada edição, novas narrativas eram acrescentadas e outras, excluídas.
De um modo geral, os irmãos abrandaram a violência e a sexualidade dos personagens, amenizaram trechos moralmente controversos e atenuaram a crueza das histórias. Wilhelm, principalmente, com sua natureza romântica, foi acrescentando um pouco mais de calor e encantamento aos textos. Assim, a dupla começou a construir a história do próprio conto de fadas, o gênero se consolidou e ficou associado aos Grimm para sempre.
No total, os irmãos Grimm publicaram 17 versões de Contos maravilhosos infantis e domésticos. A última delas, de 1857, trazia 211 narrativas, do total de 240 coletadas.
Talvez por abrigar inúmeros seres encantados, nenhuma outra obra disseminou tanta magia nesses duzentos anos. As histórias dos Grimm viraram filmes, desenhos animados, peças de teatro, histórias em quadrinhos. Estão na internet, nos videogames, em parques de diversão. São fonte de inspiração para artistas plásticos, estilistas, roteiristas, escritores, poetas, músicos. E o mais importante: se tornaram parte preciosa do imaginário infantil e adulto.
Do outro lado do espelho
Muita coisa mudou nos contos de Grimm desde a primeira publicação em 1812. Os próprios irmãos reescreveram várias narrativas. Outras foram ganhando novas interpretações com o passar do tempo. Em alguns casos, as versões que se tornaram mais populares são bem diferentes da história original.
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