21/07/2014 - 15:01h
Bárbara Ferreira Santos - O Estado de S. Paulo
21 Julho 2014 | 03h 00
SÃO PAULO - Investir em tecnologia no ensino não é apenas comprar e fazer a manutenção dos computadores, alertam especialistas. É preciso investir na formação dos professores, para que eles adquiram mais habilidades com os dispositivos, e planejar os gastos, priorizando equipamentos que possam ser usados com qualidade nas salas de aula.
O chileno Eugenio Severin, que foi consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em tecnologias na educação para a América Latina, explica que apenas colocar o computador na frente de um aluno e esperar que ele aprenda mais e melhor é como colocar um piano na frente de alguém e esperar que se faça música.
"Em muitos países da América Latina estamos cometendo o mesmo erro: acreditar que ao investir em tecnologia vamos resolver os problemas críticos da educação. A tecnologia por si só não resolve nenhum dos problemas educacionais. Esses problemas, na verdade, estão relacionados com a prática pedagógica, com a qualidade dos Professores e com a estruturação do currículo", explica.
Severin diz, no entanto, que é preciso garantir as estruturas tecnológicas nas escolas. "Crer que vamos resolver todos os problemas com tecnologia é um erro, mas acreditar que vamos solucioná-los sem ela também é um erro. Temos de mudar a metodologia, pois, se vamos usar a tecnologia para as coisas que já estávamos fazendo no passado, perderemos o dinheiro investido."
Paulo Blikstein, professor brasileiro da Faculdade de Educação da Universidade Stanford, explica que é preciso planejar o gasto das redes com a tecnologia, priorizando os investimentos em equipamentos que serão usados efetivamente na aula e com propósitos definidos. "Hoje em dia há muitas outras formas de tecnologia. Antes era basicamente uma sala de informática na escola. Agora você pode ter em uma escola outras coisas que não o computador: pelo preço de um computador pode-se comprar 15 kits de robótica de baixo custo. Em vez de dois computadores, uma impressora 3D."
Desigualdade. Blikstein alerta para a desigualdade entre as escolas de diferentes regiões do País e entre as redes públicas e particulares. "É uma vergonha que em um país do tamanho do Brasil todas as escolas ainda não tenham banda larga. A preocupação é que, como a rede particular investe em todo tipo de equipamento e com mais rapidez, a distância entre o aluno da escola pública e da particular vai aumentar. Enquanto o estudante da privada vai fazer as coisas mais inovadoras, o aluno da pública vai usar as tecnologias mais obsoletas."
Segundo Blikstein, o uso da tecnologia pode melhorar a aprendizagem dos conteúdos tradicionais, mas principalmente pode ensinar novos, impossíveis de serem obtidos com papel e caneta. "Hoje há formas de ensinar ciência usando sensores ligados em smartphones que podem medir a qualidade da água em uma determinada região, por exemplo. São sensores que 20 anos atrás seriam impensáveis."
Mas, para isso, não basta capacitar o professor para lidar com o que há de mais moderno, diz Priscila Gonsales, diretora do Instituto Educadigital. Para ela, as redes escolares têm de criar estruturas que valorizem a autoria dos Docentes e avaliações que contemplem atividades tecnológicas. "Pouco se dá de liberdade para o professor trazer o novo em um sistema voltado só para as avaliações oficiais. Temos de criar novos ecossistemas educacionais, que estimulem a troca de experiências entre docentes."
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