26/11/2014 - 13:01h
A diretoria da Faculdade de Medicina da USP anunciou no início da tarde desta quarta-feira (26) de forma oficial a suspensão de todas as festas de alunos dentro do campus e a proibição da venda de bebidas alcoólicas nas dependências da faculdade por tempo indeterminado. A decisão foi anunciada pelo diretor da FMUSP, José Otávio Costa Auler Júnior, após uma reunião da congregação da faculdade ocorrida pela manhã.
A medida é consequência das investigações de denúncias de abuso sexual e violência moral contra minorias dentro da faculdade. Auler Júnior disse que a diretoria recebeu apenas quatro denúncias, sendo três por assédio e uma por racismo. O diretor afirmou ainda que o caso de uma aluna que teria sido estuprada durante a festa "Carecas do bosque", em 2011, só chegou ao conhecimento da diretoria este mês.
A diretoria da FMUSP também confirmou a criação de um o novo Centro de Defesa de Direitos, que poderá ser coordenado por uma pessoa sem vínculo com a faculdade, e eleita pelos membros da Congregação.
O diretor da Faculdade de Medicina da USP, José Otávio Costa Auler Júnior (Foto: Cauê Fabiano/G1)
Felipe Scalise, estudante do 3º ano de medicina e membro do Núcleo de Estudos de Gênero, Saúde e Sexualidade, disse que "pelo menos até 2011 as vítimas de violência dentro da faculdade não eram encorajadas a denunciar.
"Está ocorrendo um movimento de mudança em que alguns alunos precisam ser destacados como responsáveis", destacou. "Agora com esse núcleo de defesados direitos humanos e com a ouvidoria, vão criar uma comissão de auditoria, para ver o que vão fazer com os alunos e aplicar medidas disciplinares."
Segundo o estudante, Professores da Faculdades disseram que se for comprovado que um aluno cometeu um estupro ele tem que perder o diploma, não tem que ficar nessa instituição. Isso foi dito com veemência pelos professores. "Não sei até que ponto as pessoas estão dispostas a acreditar que um aluno que cometeu uma violência. Elas tendem a acreditar que não aconteceu", ponderou.
Reunião no MP
Em reunião com a Promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público de São Paulo, na segunda-feira (24), a direção da faculdade afirmou que "o objetivo é que, com a formação desse centro, as denúncias tenham registro e devido encaminhamento multidisciplinar. Qualquer informação deve ser registrada, catalogada e devidamente encaminhada, justificando-se cada arquivamento", segundo a ata da reunião.
De acordo com os detalhes relatados à Promotoria, ele contará com um núcleo de acolhimento e uma ouvidoria, diz a FMUSP. A parte acolhimento contará com pelo menos sete funcionários para receber denúncias e prestar assistência a estudantes vítimas de violação de direitos. Segundo a ata, serão dois psiquiatras, dois psicólogos, dois assistentes sociais e um advogado. O número de psicólogos pode ser ampliado de acordo com as demandas e, segundo o documento, "a idéia é que seja garantido o sigilo àqueles que não quiserem se expor ao formular denúncias".
Já a ouvidoria deverá ser mista, com integrantes da faculdade e membros de fora, o que, segundo relato da FMUSP à Promotoria, deve "garantir isenção e imparcialidade".
O centro também terá duas outras funções: a promoção de palestras para estudantes e funcionários voltadas ao "fortalecimento dos direitos humanos", e também atuar como "centro de conciliação" para a resolução de conflitos.
Estudantes de medicina penduram cartazes nos portões da faculdade (Foto: Cauê Fabiano/G1)
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