27/12/2013 - 01:01h
Quais são os principais desafios do próximo reitor da USP?
Do meu ponto de vista, o mais importante é restaurar a unidade e coesão. A USP, há vários anos, passa por um processo de deterioração das relações entre as pessoas, entre os grupos, de disputas que não são todas elas civilizadas, algumas vezes envolvendo violência de grupos dentro da universidade e uso da força pela polícia. Isso tudo criou um ambiente em que a essência da universidade foi desaparecendo. Criou-se um clima de desagregação da universidade. O principal desafio é restabelecer uma universidade em que as pessoas se respeitem e dialoguem - não obrigatoriamente concordem, mas respeitando os limites da civilidade. O segundo desafio diz respeito a uma grande valorização do ensino da graduação na USP, que precisa voltar a ocupar um papel central na universidade. Uma das exigências para isso é que o próprio reitor e vice-reitor se dediquem pessoalmente a isso, além de tomar medidas práticas relacionadas à modernização dos métodos de ensino, à flexibilização de currículos, à redução da evasão, que é muito alta, e à valorização do trabalho dos Docentes que se dedicam ao ensino de graduação. Um outro desafio diz respeito a aumentar a inclusão na USP, sempre mantendo a qualidade e excelência dos alunos que entram na universidade.
O senhor é favorável às cotas para negros no Vestibular da USP? Por quê?
Sou favorável a alcançarmos as metas de inclusão. O que temos de fazer agora é examinar se essas metas estão sendo atingidas ou não. Em fevereiro teremos resultado do vestibular deste ano e será possível observar o que ocorreu em termos de inclusão. Poderemos ver o quanto aumentou, se é que aumentou, e se em 2018 alcançaremos essas metas ou não. Se os dados indicarem que progredimos pouco, teremos de rediscutir a nossa estratégia. Todos concordamos com essas metas, a diferença está em como atingi-las.
Como combater a evasão alta dos alunos na graduação?
Primeira coisa é identificar as causas. Elas são socioeconômicas: alunos que não têm condições de estudar por motivos econômicos e sociais. Para isso, a USP tem um programa que é bastante bom, vigoroso, com bolsas, auxílio-livros e auxílio-moradia. Se for necessário, teremos de ampliar. Uma outra causa diz respeito à incompatibilidade do aluno com seu curso: ou porque o curso o decepciona ou porqueo aluno não está suficientemente preparado. Ou ainda ele entrou muito jovem na universidade, gostaria de fazer outra coisa e acaba abandonando o curso. Precisamos reformar os cursos para ver se seguramos mais os nossos alunos.
Como é possível aliar as demandas de expansão com as exigências de qualidade no ensino e na pesquisa?
Temos uma universidade que já é muito grande, cuja gestão é muito complexa, porque temos nove câmpus diferentes, em cidades muito diversas. Não podemos esquecer que as boas Universidades do mundo têm um tamanho muito menor que o da USP. Citamos Harvard, MIT (Massachusetts Institute of Technology) e Stanford, mas elas são muito menores. Realmente temos dificuldade de expansão. De qualquer forma, a USP precisa dar uma contribuição muito mais significativa ao ensino superior do Estado. Em primeiro lugar podem ser feitas ampliações limitadas em áreas que são muito nobres e precisam de formação de qualidade. Em segundo lugar, ajudando outras escolas e universidade que tenham capacidade de formação de pior qualidade. Em terceiro lugar, podemos ampliar o potencial de outras iniciativas de ensino no Estado, como, por exemplo, a Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo), de maneira que a USP, sem aumentar significativamente o seu número de alunos, possa dar uma contribuição relevantepara o ensino no Estado.
Como tornar a USP mais forte no cenário internacional?
Eu diria que a USP está muito bem no cenário internacional, se você considerar o tamanho da universidade e a abrangência das atividades que ela faz. Ela é, sem dúvida nenhuma, a universidade líder na América Latina. Há reforços que precisam ser feitos. A questão do ensino é difícil de ser avaliada. Não é fácil comparar a USP com uma universidade dos Estados Unidos ou inglesa. Os parâmetros são diferentes,assim como o Mercado De Trabalho. Vamos instituir um programa de acompanhamento dos nossos egressos. Para mim, isso é o que mede a qualidade do ensino. Muitas universidades estrangeiras têm bons sistemas de medir e acompanhar e nós, na USP, não temos, mas precisamos ter. Agora a internacionalização vai muito bem também. Uma coisa é o Intercâmbio de alunos de graduação, da USP para o exterior e do exterior para a USP. Isso era moderno na USP e nesta gestão aumentou significativamente. Tem outras coisas que precisam ser reforçadas, como nossas estruturas de receber pessoas, mas isso está em andamento e será reforçado. Ao mesmo tempo que progredimos no relacionamento com países do primeiro mundo, falta progredir na interação com a América Latina e a África- aí o fluxo será mais da vinda que da ida - e também o intercâmbio entre pesquisadores.
Como melhorar o diálogo com o movimento estudantil?
Conversando com os estudantes. A receita é muito simples. Acho que não há diálogo quando não se conversa. Nessa campanha, tivemos a experiência agradável de conversarmos e discutirmos com estudantes. Vimos que são pessoas interessadas em problemas sérios da universidade e da sociedade, e tenho certeza que conseguiremos dialogar, discutir e até discordar com eles, o que é bom, porque os jovens é que promovem as mudanças do mundo. Isso sem nunca esquecer o nosso papel de educador. Quando o educador não consegue conversar com jovens que educa, ele falhou em sua missão.
Qual é o formato de eleições ideal para a universidade?
É o formato que a própria universidade decidir. Cabe-nos garantir que a comunidade terá uma discussão livre e encontrará o melhor caminho. Fomos capazes de fazer uma mudança significativa no processo de eleição. Neste ano, o processo foi muito diferente dos anteriores e houve uma participação ampla de professores, alunos e servidores em suas duas fases. Na visão de alguns, ainda não é o processo ideal, mas ficou demonstrado que é possível ter mais inclusão. Essa discussão voltará e não nos cabe apoiar um ou outro formato. A premissa número um para reunificação da USP é ter paciência de unir e conversar com todos.
Uma das principais queixas de alunos é a presença da Polícia Militar no câmpus. O senhor pretende manter a PM nos câmpus?
Isso precisa de reavaliação. Em primeiro lugar, precisamos tomar medidas para segurança, para preservação da vida das pessoas e do patrimônio. E isso de um modo geral em toda a cidade é feito pela polícia. Precisamos tomar providências para que seja feito pela polícia ou por uma alternativa. Mas temos de garantir a segurança naquela região. O segundo aspecto diz respeito ao uso de forças policiais para contenção e inibição de manifestações, o que não cabe jamais usarmos forças policiais, desde que as manifestações respeitem o direito dos adversários discordarem. O papel do reitor deve ser o de preservar o direito da livre manifestação de todos, mantendo o direito à discordância. O uso de força de segurança é para evitar roubo de carros e mortes. Vamos reavaliar o uso da PM, recorrer aos nossos especialistas e fazer um plano de segurança.
Como o senhor pretende enfrentar os problemas ambientais da USP Leste e os possíveis deslocamentos de alunos?
O problema de deslocamentos de alunos ainda não se pôs. Neste momento, a nossa principal preocupação é atender as recomendações da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) para que a segurança naquela área seja restabelecida. Tive a oportunidade de conversar com o presidente da Cetesb de maneira informal e me parece que a solução não é extremamente complexa ou inviável. Pode ser feita e deverá ser feita. Não há alternativa: a USP tem de atender as exigências porque não é uma questão de ganhar ou perder na Justiça, mas de garantir a segurança dos nossos alunos, Professores e funcionários. Isso será feito prioritariamente. Tenho a esperança otimista de que isso evitará fazer o deslocamento de pessoas.
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