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Janine diz que falta de 'repertório' em novo currículo proposto para história

09/10/2015 - 19:01h

Renato Janine Ribeiro participou de reunião no Instituto Lula, em São Paulo. (Foto: Heinrich Aikawa/Instituto Lula/Divulgação)
Renato Janine Ribeiro participou de reunião no
Instituto Lula, em São Paulo. (Foto: Heinrich
Aikawa/Instituto Lula/Divulgação)

A "falta de repertório básico" na disciplina de história é apontada como uma falha na proposta da Base Nacional Comum (BNC). Até mesmo o ex-ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, em Entrevista ao G1, reconhece as críticas e defende a necessidade de acertos no processo.

Atualmente, a BNC está aberta para contribuições de Professores por meio de site específico. A meta é que seja aprovada até junho de 2016. O documento preliminar foi lançado em setembro sem o capítulo que trataria da história, o que acabou sendo feito nos dias seguintes.

Na disciplina história, o debate gira em torno do que críticos do currículo chamam de falta de cronologia e de temas da História Antiga, da Idade Média e, inclusive de eventos relevantes da História do Brasil.

O ex-ministro chegou a fazer um post em seu perfil no Facebook, na quinta-feira (8), no qual afirma que o Ministério da Educação não formulou o conteúdo, e que só o imprimiu com a ressalva de que o conteúdo seria revisto.

Em entrevista ao G1, o ex-ministro e Professor de ética e filosofia da Universidade de São Paulo (USP) explicou que, na sua opinião pessoal, a base curricular da disciplina deixou a desejar no repertório básico. "Fiz questão de deixar claro que a proposta não era oficial do governo, porque ela ia ser acusada pela falta desse repertório básico", disse Janine.

Procurado pelo G1, o Ministério da Educação disse que o programa curricular foi elaborado por professores de Universidades federais, e que não comentaria a publicação feita pelo ex-ministro.

ENTENDA A BASE NACIONAL COMUM

O QUE É: A BNC é o documento que detalha o que precisa ser ensinados em matemática,  linguagens e ciências da natureza e humanas nas escolas do país.

PREVISTA EM LEI: A Base Comum está prevista na Constituição, na Lei de Bases da Educação e no Plano Nacional de Educação

CONTRIBUIÇÕES: Os debates e propostas serão concentrados no portal http://basenacionalcomum.MEC.gov.br/

PRAZO: O PNE (Plano Nacional de Educação) estabelece que até junho de 2016 deva ser cumprida a meta de estabelecer uma "proposta de direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento". A Base Nacional será apresentada como resposta a essa demanda.

Cronologia do debate
Segundo o filósofo, há muitas controvérsias sobre o que ensinar em história. Mas, no caso do documento apresentado pelos especialistas, o programa não incluiu uma cronologia dos acontecimentos históricos que forjaram as sociedades.

"Não havia História Antiga, não havia História Medieval. No caso do Brasil, o conteúdo partia de fenômenos atuais, como a discriminação racial, e daí partia para a questão da escravidão e dos indígenas. Mas deixava de lado a economia colonial e o que seria uma cronologia. Muitas pessoas discordam dessa visão, porque ela não dá ao aluno o repertório básico para discutir a história", disse Janine.

"Se o aluno não estudou a Idade Média, o Renascimento, a Colônia, mas apenas estudou esses períodos em função da opressão, fica muito difícil ter depois condições de discutir isso. Por isso que, quando saiu o primeiro projeto deles, eu pedi que fosse reavalidadp, e que eles tentassem algo com repertório com base no conhecimento da história."

Ressalva
Janine afirmou que, embora tenha pedido alterações, houve muita resistência do grupo de especialistas em implementar mudanças no currículo. "Aceitei a publicação como estava, mas sabendo que depois isso traria problemas. Por isso fizemos questão, quando publicamos a base de história, de lembrar que não era um documento do MEC, mas que era um documento que o MEC disponibilizava, examinado por pessoas externas ao MEC, e que o MEC discutiria", lembrou ele.

"Pedi que especialistas fossem reunidos para discutir essa base. Dizer se concordavam ou não. Essas são as medidas que eu tomei para que fosse preservada a base e que ela tivesse discussão."

Para o ex-ministro, o ensino de história foi sendo alterado nas últimas décadas e hoje já não está mais centrado apenas no aprendizado de datas e nomes de figuras históricas e célebres.

"Há pessoas que acham que você não deve estudar a lista de nomes de faraós do Egito. Esse tipo de história já está superado, mas isso não significa que o Egito esteja superado", afirmou.

No caso do documento apresentado na BNC, Janine diz que é a favor dos novos itens inclusos, como revoltas que são menos conhecidas e que antes não figuraram nos conteúdos ensinados em sala de aula. Mas, de acordo com ele, é preciso oferecer um contexto mais amplo aos estudantes.

"Sou a favor de estudar todo esse elemento revoltoso que sai da história oficial, mas precisa ter uma base pra pessoas ter uma noção e possam inclusive ter uma interpretação."

Especialistas de cada área
O ex-ministro explicou que, em todas as áreas da BNC, especialistas com experiência dentro da sala de aula foram convidados para elaborar as propostas preliminares que foram lançadas em setembro, e agora recebem contribuições.

"Em cada área foram convidados especialistas, dando particular ênfase às pessoas que estão na sala de aula. Isso foi muito importante, para não impor de cima pra baixo uma regra para todo o sistema educacional, mas partir de pessoas que têm experiências com os alunos."

A palavra final, porém, será do Conselho Nacional de Educação (CNE), que deve aprovar a proposta final da BNC em 2016.

Especialista pede foco no professor
Especialista na formação de professores, o historiador Daniel Vieira Helene aponta que as críticas em relação a aspectos do conteúdo definido deixam em segundo plano um debate ainda mais importante: como a base vai impactar a rotina dos professores.

"Esse currículo não é prescritivo, mas também não é interativo e não pressupõe tornar o professor agente do processo de aprendizado", afirma o professor.

Helene não questiona a importância de privilegiar a história do Brasil e dar, por exemplo, relevância ao estudo dos povos indígenas. Mas, segundo ele, o trabalho deveria caminhar mais próximo dos parâmetros nacionais.

"Um currículo normativo tem a sua importância. Ser democrático, reconhecer a diversidade, tudo isso é válido. Mas como isso vai impactar na sala de aula? No que se viu, o impacto vai ser minimo. (A BNC) define um campo absolutamente rico para as editoras de material didático: vago o suficiente para caber qualquer coisa, e obrigatório o suficente para fazer um livro para o Brasil inteiro", afirmou.

"É preciso conceber o curricilo interativo, que supõe uma ação clara por parte do professor."

Apesar de o processo da definição da base ainda estar aberto a consulta, o especialista não é otimista quanto ao resultado. "Gosto do modelo de apresentar um documento em torno do qual possam ser feitas propostas. Mas não vejo movimento em nenhuma escola em que equipes de Docentes estão discutindo o documento. Acredita-se que essa participação é um pouco proforma, e eu acredito um pouco nisso também", diz Daniel Helene.


Fonte: G1


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