28/08/2014 - 17:01h
Em seu livro Grande Sertão: Veredas, o mineiro João Guimarães Rosa marcou a literatura brasileira. Com uma linguagem inovadora e criativa, a obra ampliou a vida do sertanejo nordestino a uma dimensão universal, debatendo os dilemas humanos. Nesta quinta-feira (28), o Projeto Educação traz a professora Flávia Suassuna, de literatura, para falar de um dos mais importantes livros já feitos no país.
A história de "Grande Sertão: Veredas" se passa entre os jagunços que andam pela região do semiárido brasileiro. O cenário é de casas humildes, paredes de barro e objetos simples. O personagem principal é Riobaldo. É a maior obra da literatura brasileira, por enquanto. Vamos ver o que o tempo diz, mas basicamente talvez seja o melhor livro da nossa literatura. As cem primeiras páginas do livro são histórias todas quebradas. Na verdade, quando a gente termina de ler o livro, você vê que é como se ele oferecesse vários fios. E ele vai terminar amarrando esses fios a partir da página 100 e contar a história. Não é um livro escrito, é um livro falado. Então, é como se fosse uma fala. Quando a gente está falando, a gente não tem a ordenação sintática da escrita. Então, a gente começa uma frase, abandona a frase, começa outra e isso aparece frequentemente no livro, opinou a professora.
Universo sertanejo é ampliado com Guimarães Rosa
(Foto: Reprodução / TV Globo)
O universo do sertanejo e do livro também é permeado pela religiosidade, um tema global. No Museu Cais do Sertão, no Recife, os visitantes podem conhecer o túnel do capeta. No local, é possível ouvir vozes de sertanejos chamando o diabo por vários nomes. O túnel é todo espelhado para fazer referência às inúmeras formas que os sertanejos acreditam que o capeta tem. [o livro] É a história de um homem que, no momento em que ele teve que escolher entre o bem e o mal, escolheu o mal. Ele fez um pacto com o diabo, porque ele queria ser o chefe dos jagunços. A escolha do bem e do mal não é uma escolha do nordestino, é uma escolha dos seres humanos. Então, é como se o Sertão ganhasse uma dimensão mística, uma dimensão mítica. E ele não fica só naquelas questões sociais, politicas, climáticas. Mas dá esse salto mais amplo, que pode ser como se fosse uma reflexão sobre a nossa trajetória na vida material, destacou Flávia Suassuna.
Quando leem o livro, muitos leitores ficaram e ficam intrigados quando encontram, no livro, o amor entre dois jagunços: Riobaldo e Reinaldo (Diadorim). No final do livro, a gente descobre que Diadorim era uma mulher. Mas a gente passa o livro inteiro achando que há um amor muito lindo e limpo entre dois homens. Um amor platônico, um amor idealizado, mas entre dois homens. No final você descobre que Diadorim é uma mulher, mas ele já está morto quando a gente descobre isso, disse a professora.
Em relação à linguagem, às vezes é um pouco difícil entender a literatura de Guimarães Rosa. Nela, há estruturas de outras línguas, estrangeirismos, neologismos, arcaísmos e regionalismos. É uma festa linguística. A arte não é uma coisa que você vê, não é uma coisa que você lê. É uma coisa que deve mudar seu jeito de ver, finalizou Flávia Suassuna.
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