28/01/2016 - 08:01h
Nesta época do ano, quem circula por qualquer cidade do Rio Grande do Sul nota, nas sacadas dos apartamentos ou nas janelas das casas, faixas felicitando os estudantes que acabaram de ser aprovados no Vestibular. Vitor Classmann, de 18 anos, mora na pequena São Martinho, no interior do Estado, e, claro, ganhou também sua faixa de "parabéns, bixo."
Também, pudera, o jovem passou em 11 vestibulares de medicina, desde julho do ano passado. Só neste verão, ele foi aprovado em três Universidades federais: UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre), UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e UFPR (Universidade Federal do Paraná).
Claro que Classmann está feliz e, de certo modo, orgulhoso. Mas, no fundo, o jovem não vê motivos para tanta comemoração assim. Seu objetivo mesmo ainda está distante. Ele não sonha em ser estudante de medicina, mas sim, médico.
"Meu objetivo não é passar no vestibular. Isso é vazio. O meu objetivo é ser médico. Por isso, agora, preciso olhar para frente, para o futuro. Passei por um obstáculo, claro. Mas agora, tenho um processo para trilhar. É o início de uma nova fase", afirmou, sem nenhuma arrogância.
O jovem acabou de fazer sua matrícula na UFCSPA. A escolha foi um tanto óbvia. Classmann quer cursar uma universidade pública e ficar o mais perto possível de sua família e de seus amigos.
"A UFCSPA é uma das melhores do Brasil. Sempre foi uma universidade que eu vislumbrei muito. Ela é referência em oncologia, cirurgia geral e psiquiatria, que são áreas que me atraem. A infraestrutura é impecável", explicou.
A vida em Porto Alegre não o assusta tanto. O estudante passou 2015 na cidade, fazendo cursinho no Método Medicina. Sua rotina foi intensa, mas, segundo ele, sem ser sufocante. Classmann assistia às aulas de manhã e de tarde. Por vezes, ficava algumas horas a mais no cursinho tirando dúvidas. Durante a noite, estudava mais um pouco. Mas não muito.
"Quando eu chegava em casa, tomava banho, comia e descansava. Depois, se eu estava empolgado, me sentindo bem, estudava 4, 5 horas. Quando não me sentia bem, estudava uma hora. Fui muito me conhecendo e a partir daí fui estudando", contou.
"Eu prezava muito pelo meu bem estar. Acho que o ano de vestibular não está deslocado da sua vida. Você não pode se transformar em um robozinho, decorando fórmulas. Em 2015, não deixei de sair ou conversar com meus amigos", completou.
Nas horas de muita ansiedade, o jovem tentava desviar um pouco a atenção. Um dos alvos foi a sobrinha recém-nascida, por quem Classmann é apaixonado.
"Era só eu ficar nervoso que começar a pensar na Letícia, minha sobrinha. Ela mora com a minha irmã em Ijuí, no interior do Estado. Ela nem sabe, mas era minha válvula de escape em pensamento", contou.
Até 2015, Classmann nunca havia morado longe de São Martinho. Até a quinta série (hoje sexto ano), o jovem estudou em uma escola pública da cidade. A mesma onde a mãe se aposentou como professora de geografia.
Depois, se mudou para um colégio particular na cidade de Três de Maio, onde era bolsista. Levava uma hora para ir e outra para voltar de ônibus. No fim do 3º ano chegou a passar no vestibular de medicina em uma universidade particular, mas, por não ter condições de pagar a mensalidade, achou melhor fazer um ano de cursinho em Porto Alegre.
Foi a primeira experiência fora de casa de Classmann que foi morar em uma pensão, parceira do cursinho, com outros seis colegas. A viagem da capital à São Martinho leva seis horas. Por isso, o jovem voltou para casa apenas quatro vezes durante o ano. A saudade acabou sendo amenizada com a internet.
Agora, em 2016, para o curso de medicina, o estudante vai ter de morar em outro lugar da cidade. Ele está ansioso em relação à nova moradia e, principalmente, à vida na universidade.
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