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Despoluição da praia de Perequê, no Guarujá. Sustentabilidade: uma questão de sobrevivência

29/01/2014 - 06:12h

“Não investir em sustentabilidade é um suicídio. Essa é uma nova realidade para as empresas. Ou elas se adaptam ou morrem”. A opinião é de Gesner Oliveira, economista, consultor e conselheiro do Planeta Sustentável.

Oliveira fala com experiência. Teve uma longa carreira na gestão pública. Já foi presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica* (CADE), secretário de acompanhamento econômico do Ministério da Fazenda e presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Atualmente é um dos sócios da GO Associados, empresa de consultoria em negócios e serviços, com forte foco na área de sustentabilidade.

Na Entrevista abaixo, o economista mostra como é possível aliar negócios e meio ambiente, defende uma maior participação social das empresas nas comunidades onde atuam e defende a redução de perdas na produção da água, uma de suas principais lutas no momento.

Como é o trabalho da GO Associados?
Trabalhamos em quatro eixos. O primeiro deles é em infraestrutura e temos dado grande ênfase em saneamento ambiental. O segundo eixo é a defesa da concorrência e da regulação, que tem uma forte sinergia com a infraestrutura. Temos trabalhado com a questão da redução de tarifas, casos de cartel e pareceres para o Cade. O terceiro eixo é sobre política comercial e industrial, com estudos para redução de alíquotas de importação e acordos comerciais, e por último, a quarta área é sobre soluções ambientais, em que procuramos formular soluções e projetos de redução de perdas e eficiência energética, por exemplo.

O senhor poderia dar algum exemplo de um projeto na área de soluções ambientais?
Há um projeto bem bacana, que estamos muito felizes em fazer: o trabalho de despoluição da praia de Perequê, no Guarujá, no litoral paulista. É uma praia maravilhosa, muito famosa na região há uns 50 anos, mas atualmente muito poluída. Conseguimos aprovar uma proposta que a compensação ambiental que alguns condomínimos estão fazendo por ordem do Ministério Público, por problemas de desconformidades das construções e utilização de terrenos que não deveriam ter sido ocupados, seja a de financiamento para o saneamento de determinadas regiões para despoluir as praias do Perequê. Normalmente a multa imposta pelo Ministério Público é a compra de áreas, mas nem sempre isso resolve o problema da poluição.

De onde surgiu o viés ambiental no trabalho da GO Associados?
Foi uma coisa muito legal que aconteceu com a gente. Surgiu do encontro de um grupo de profissionais na Sabesp, que tinha como desafio tornar a empresa mais voltada para a questão do meio ambiente. A Sabesp, apesar de estar envolvida em uma atividade despoluidora, tinha uma imagem que não era boa junto às organizações ambientalistas. Faltava à empresa uma política mais sistemática voltada ao meio ambiente, um relatório sobre sustentabilidade, a adoção de indicadores ambientais e metas específicas para o setor. Acabamos fazendo um trabalho bem sucedido e isso acabou unindo os profissionais do grupo, aproximando engenheiros ambientais, economistas e advogados, nos levando então a criar a consultoria. Descobrimos que as empresas tinham uma necessidade de formular políticas de sustentabilidade.

O que é o projeto Aquapolo Ambiental?
Ficamos muito entusiasmados também com este projeto de utilização da água de reúso. O projeto pega o efluente da estação do ABC paulista, que é uma das grandes estações do sistema de esgoto da região metropolitana de São Paulo, e ele é tratado para ser utilizado como água de reúso industrial. Essa água é usada no Polo Petroquímico de Capuava. A capacidade de produção e bombeamento é de um volume bastante grande, pode chegar a 1.000 litros por segundo, algo que seria suficiente para suprir uma cidade como Santos. Tudo isso é uma poupança de água, você deixa de gastar. Porque para resfriamento industrial, lavagem de ruas ou mesmo regagem de jardins, você não precisa usar água potável. A máquina da fábrica ou o vagão do metrô não precisam ser lavados com água com flúor, certo? Então podemos economizar muita energia e produtos químicos e reutilizar aquele esgoto, que seria jogado no rio. Esse foi um projeto que a gente se engajou e enxerga no Brasil muitas oportunidades parecidas nessa área de perdas. Gostaríamos mesmo de fazer um trabalho missionário de difusão de projetos de reúso de água. (Em 2011 o Aquapolo Ambiental foi considerado um dos projetos sustentáveis mais inovadores do mundo pela publicação Global Water Intelligence)

As empresas ainda se sentem muito reticentes em investir em sustentabilidade?
Acho que é um mercado que tem um potencial enorme e está melhorando. Temos percebido um grande interesse, mas ainda há muito a avançar. Estou no momento na Califórnia e fico impressionado como aqui o rigor das empresas com políticas de sustentabilidade é bem maior. Os padrões são bem mais elevados. Mas mesmo assim, a gente percebe no Brasil, e particularmente no estado de São Paulo, uma evolução muito grande com uma política das empresas voltada para a sustentabilidade. Há espaço tanto para as grandes companhias agirem, como para as pequenas e médias. É um mercado bastante promissor.

Como é possível explicar aos empresários de maneira simples a importância de se investir em sustentabilidade?
Não investir em sustentabilidade é um suicídio porque os padrões da sociedade estão mudando muito e ao não investir, você pode ficar marginalizado. De repente você acorda e percebe que o que produz é proibido! (risos)… Ou aquele processo está totalmente ultrapassado e a agência ambiental não vai mais deixar você produzir e a sua empresa vai à falência. Eu diria que ou você se adapta ou você morre. E o mais importante, é que a sustentabilidade é fundamental para o sistema de valores das empresas. Uma organização, de qualquer setor, não pode só estar localizada numa comunidade, ela precisa fazer parte daquela comunidade. E é impossível fazer parte da comunidade sem se preocupar com o seu bem-estar e com o meio ambiente. Por isso a sustentabilidade deve fazer parte dos valores da empresa. Só tem sentido uma organização existir se ela estiver em harmonia com o meio ambiente, caso contrário, não há razão para existir.

A sustentabilidade pode ser incorporada aos negócios?
Sim, há grandes oportunidades de negócios. No Brasil as perdas de energia e água são tão grandes, que a oportunidade de ganho é muito elevada. Uma pequena redução de perdas oferece grandes benefícios, inclusive de rentabilidade.

O que são os contratos de riscos feitos pela consultoria visando a redução das perdas energéticas e hidráulicas?
A gente mostra a uma empresa, por exemplo, que ela está perdendo 70% do que ela produz de água. Com a nossa ajuda e consultoria, o que a companhia consegue reduzir em perdas, ela nos paga, ou seja, uma parte dos ganhos dela com a redução será usada para remunerar nosso esforço e capital. Isso é um contrato extremamente vantajoso, de ganha-a-ganha. Ganha a empresa que tem o aumento da arrecadação e a redução do desperdício e mais do que tudo, a absoluta mudança de sua imagem – de uma empresa negligente, que tem vazamento na rua, para uma empresa que está fazendo tudo o que pode para ajudar o meio ambiente. Ganham também quem faz o serviço e a sociedade, afinal no caso da água, esse é um recurso cada vez mais escasso.

Por que é tão importante priorizar a redução de perdas da água?
É uma questão de sobrevivência. O mundo está ficando muito urbano e as grandes manchas urbanas estão ficando cada vez maiores e cada vez com menos água. Você pega cidades como o México, o Cairo ou a região metropolitana de São Paulo, já há problemas de falta de água. E a forma mais lógica de resolver isso é sendo eficiente. O maior manancial que a gente tem é a nossa incompetência para gerir a água. É como se fossemos uma padaria na América Latina e de cada 10 pães que a gente produz, perde quatro. Se a gente começar a perder dois, já estamos economizando 20% da nossa produção. Para podermos ter água para a nossa sobrevivência, precisamos ser mais eficientes e reduzir perdas. Por último, não podemos esquecer que uma empresa só tem legitimidade social quando ela realmente cuida do meio ambiente. E como não preservar o bem mais valioso do planeta, a água?

O desperdício de recursos naturais é um problema mundial ou somente dos países mais pobres?
É um problema mais dramático nos países em desenvolvimento, porém não é exclusivo deles. A gente percebe perdas relativamente elevadas em países desenvolvidos, mas com menor frequência.

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Fonte: Planeta Sustentável


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