Ser Universitario
 

Desafio da vida real

01/03/2016 - 01:03h

Ah, as redes sociais virtuais... Elas são capazes de causar grandes estragos na vida das pessoas, não é verdade? E não me refiro aos estragos que dizem respeito à reputação, à moral, à sexualidade, à exposição da intimidade, que também ocorrem, e muito!

Estou pensando no tal "desafio da maternidade" que rolou no Facebook. No início, parecia uma brincadeira boba, dessas que as crianças fazem entre si: "Vamos postar nossas fotos com os vestidos mais bonitos e ver quem ganha mais curtidas?", por exemplo.

A proposta do "desafio da maternidade" foi a de postar três fotos que deveriam mostrar a felicidade da mulher no papel de mãe. Depois, essa tinha de desafiar outras três e, assim, o desafio multiplicou-se numa grande velocidade. Ah! Que coisa mais romântica!

Uma foto com os filhos nunca corresponde à realidade vivida cotidianamente como mãe, nem mesmo um vídeo é capaz disso: mesmo nesta época do "Sorria! Você está sendo filmado", não somos quem somos quando longe das câmeras.

Uma foto é um recorte planejado para ser apreciado, para fazer bonito, já que será congelado por muito tempo e visto -e julgado- pelo outro! Quem já teve a oportunidade de observar pessoas fazendo selfie sabe muito bem como elas buscam seu melhor ângulo, seu sorriso mais bonito, seu olhar mais sedutor. Todo mundo quer sair bem na foto! Com os filhos, então, nem se fala!

Mas a brincadeira do desafio não terminou bem, como eu já esperava. Afinal, sempre que há competição pode haver alguma confusão. Algumas mulheres desafiadas reagiram à ideia da maternidade romantizada e desabafaram.

Quem não sabe que o exercício da maternidade é uma tarefa árdua? Mas a reação não foi bem recebida por muitas mães que estavam gostando da brincadeira, e pronto: confusão armada. Sobrou cartão amarelo para algumas, vermelho para outras, torcidas organizadas brigando, e o escambau.

O que podemos aprender com esse evento? Muita coisa, e quero ressaltar algumas delas.

Primeiramente: o exercício da maternidade é um desafio pessoal. PESSOAL! A maternidade envolve nossos afetos, nossos anseios, nossas potencialidades, nossas limitações, nossas "neuras", entre tantas outras coisas. E a verdadeira performance de cada mulher como mãe só se dá longe, bem longe do olhar dos outros. Só a própria mãe sabe -e nem sabe tudo!- o que se passa quando ela tem filhos.

O segundo ponto é delicado: estamos em busca da imagem de "mãe perfeita", e a internet tem grande colaboração nessa história. Mesmo nos desabafos, há essa busca: "Vejam que sou perfeita, porque assumo minhas imperfeições". Isso é o que podemos ler nas entrelinhas das mensagens e posts.

Esse ideal de mãe que procuramos é inatingível, atrapalha a realidade cotidiana de cada mãe, que já tem em seu imaginário essa meta, e provoca essa verdadeira competição exibicionista.

O último ponto que quero ressaltar é que ser mãe, hoje, parece ser um esporte olímpico em que só há três lugares no pódio. Às demais só resta a culpa por não ter conseguido chegar lá.

O que é isso, minha gente? Mães precisam se apoiar, ser empáticas umas com as outras, generosas, acolhedoras com as diferenças e as limitações -próprias e das outras-, sensatas e solidárias, já que cada uma sabe das suas dores e delícias no exercício da maternidade.


Fonte: Folha Educação


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