08/09/2014 - 18:01h
É com a voz tranquila e um sorriso no rosto que o reitor da USP (Universidade de São Paulo), Marco Antonio Zago, diz que a greve está ajudando-o a "conhecer [ainda] melhor a USP". Desde o começo de agosto, a entrada do prédio da reitoria, onde fica seu gabinete, está bloqueada por um acampamento de grevistas.
A universidade passa pela mais longa greve da sua história -- técnicos administrativos estão de braços cruzados desde o final de maio.
"Eu já disse uma vez que vou me aposentar ou morrer -- o que acontecer antes-- sem ter conhecido completamente a USP. Todas as oportunidades de trabalhar em diferentes locais na USP são bem-vindas", disse o reitor ao UOL na última sexta (5) de seu gabinete improvisado na sede da Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular). O prédio fica ao lado da portaria principal da Cidade Universitária, na zona oeste de São Paulo.
Formado em medicina pela USP Ribeirão Preto, ele é Professor de dedicação exclusiva da instituição desde 1973.
"Somos eu e meu computadorzinho", conta quando é questionado sobre a estrutura de que precisa para trabalhar fora do seu gabinete. Para evitar novas manifestações dos grevistas, o grupo reveza locais de trabalho. Já estiveram em Bauru, São Carlos e na USP Leste.
"Quem sabe... No futuro será mesmo assim", diz. Zago pontua que o gabinete do reitor, na reitoria, é um local necessário para o cumprimento de cerimônias, reuniões protocolares. As reuniões mais cotidianas podem ser realizadas nos diversos institutos da USP. "Como o reitor trabalha? Assim, recebendo pessoas, fazendo reuniões. Em casa, de noite, eu respondo meus e-mails."
Os contratempos não alteram o tom de voz, pausado e baixo, do professor. "Está tudo bem. Veja, isso é uma coisa incômoda, atrapalha a vida, retarda coisas que são de interesse da universidade. Mas é o preço que tem que se pagar para conviver num ambiente democrático. Nem sempre os direitos são respeitados pelos grevistas. Mas isso faz parte", diz.
"Isso é melhor que enfrentar essas coisas com força, desrespeito. É minha obrigação ressaltar que há grupos intolerantes na universidade que são minorias. Acho que a universidade é local de luta de ideias e não de uso de força", complementa.
Só se vê certa irritação - quando as palavras saem com mais rapidez -- quando ele comenta as atitudes de bloqueio e piquete por parte do Sintusp. Ou quando foi questionado sobre seu conhecimento prévio da situação financeira da USP, já que participou da gestão anterior. O tom mudou ao ser questionado sobre o uso da Tropa de Choque da PM (Polícia Militar) para acabar com o trancaço (bloqueio dos portões) semanas atrás.
"Quando você é assaltada por um grupo de bandidos, se tiver oportunidade, não chama a polícia?", pergunta o reitor, devolvendo a pergunta. "Nos dias subsequentes [ao trancaço anterior], recebemos uma enxurrada de mensagens de quem não conseguiu entrar na universidade, que isso desrespeitava o direito de ir e vir, que essas pessoas tinham se apropriado do espaço público". O reitor, por considerar a questão justa, acionou a polícia.
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