02/12/2014 - 03:01h
Denis Akimov, de 15 anos, estuda em casa usando o computador em Donestk, na Ucrânia (Foto: Balint Szlanko/AP)
Como muitas crianças de sua idade, Denis Akimov passa horas por dia em seu computador, navegando na internet. Mas não apenas para se divertir.
Em Donetsk, na Ucrânia, com escolas forçadas a limitar suas operações devido aos conflitos na região, educadores estão recorrendo à web para manter os alunos aprendendo. É uma solução engenhosa, mesmo que a valiosa interação entre pupilos e seus amigos acabe sendo restrita.
Não é comparável a uma escola normal, porque não há uma atmosfera própria para estudar, disse Akimov, de 15 anos, sentado diante de seu notebook em casa. Muitas vezes você acaba distraído com diversas coisas, como outros sites.
Escolas e jardins de infância não foram poupados da morte e destruição dos últimos sete meses, resultado dos embates entre forças do governo e separatistas russos.
No início de novembro, um campo de esportes de uma escola na cidade foi atingido por bombas, matando dois jovens que jogavam futebol. Ambos os lados culparam um ao outro pelo incidente, e os pais ficaram aterrorizados com a ideia de ter os filhos expostos ao conflito, ao saírem de casa.
Indo para o online
O departamento de educação de Donetsk, controlada pelos rebeldes, afirma que 50 das 150 escolas da cidade optaram pelo ensino à distância. Autoridades estimam que cerca de 45% dos estudantes da região - cerca de 32 mil alunos - estão sendo educados dessa forma.
Andre Udovenko, chefe do departamento de educação da cidade, afirmou que o fechamento das escolas aconteceu nos distritos mais afetados pelos bombardeios. Quatro edifícios escolares foram seriamente danificados, enquanto que dezenas sofreram algum tipo de dano.
Apesar dos perigos, Udovenko destacou que os estudantes estão mostrando uma vontade extraordinária de continuar seus estudos. Trabalhei como diretor por 20 anos e nunca vi tanto desejo de aprender entre as crianças da forma como estamos observando agora, sublinhou.
Professora observa alunos respondendo à pergunta, enquanto aula é transmitida online para outros estudantes em Donetsk, na Ucrânia (Foto: Balint Szlanko/AP)
Já a diretora Viktoria Koval contou que a escola onde trabalha teve sorte, apesar de algumas janelas estilhaçadas devido aos bombardeios no fim de outubro. Provavelmente são nossas paredes que estão nos salvando. Tivemos que evacuar as crianças muito rápido, mas conseguimos fazer isso com sucesso, então ninguém se feriu, relembrou.
A escola nº 5, onde Viktoria trabalha, não tinha um abrigo antibombas no design original, sendo assim, um antigo estande de tiro foi modificado para tal necessidade. Durante todo o verão, foram estocados água e remédios no local, também equipado com bancos e cadeiras caso houvesse um novo ataque. Koval disse que apenas metade dos 405 alunos registrados continuam indo à escola.
A crianças vêm felizes para escola. Além disso, quando encontro os pais todos os dias na entrada, posso ver que eles não têm medo de deixar os filhos. Eles sabem que as crianças estarão em uma atmosfera quente e confortável, e que receberão toda a ajuda que precisarem, descreveu a diretora.
Para aqueles que têm dificuldade em deixar suas casas, a internet é a única opção. Com o programa de aprendizado à distância, Professores enviam materiais de estudo e lição de casa para os alunos por e-mail. Muitas das instruções são postadas em sites de curadoria escolar ou feitos por meio de tutoriais em vídeo colocados em sites como o YouTube.
É esperado que as crianças façam visitas regulares à escola, para que seus trabalhos sejam corrigidos e assistam a aulas mais curtas, geralmente frequentadas por poucos alunos.
As aulas de matemática são as mais difíceis porque é difícil apresentar o trabalho, já que não é possível digitar todos os símbolos matemáticos, se queixou Denis Akimov.
Salários
Deficiências nas ofertas de educação são parcialmente causadas pela falta de financiamento. Os fundos deixaram de ser repassados pelo governo ucraniano há dois meses, o que significa que o salário dos funcionários não está sendo pago pelo Estado este ano. Os educadores, ao invés disse, dependem do pouco que o governo rebelde oferece.
Koval disse que muitos de seus colegas continuam a trabalhar sem receber, apenas por lealdade aos alunos. Nossa missão é ensinar as crianças, proporcionar a eles todas as condições necessárias, conhecimento e trazer aquilo que acredito que os ajudará no futuro, completou.
O principal, de acordo com a diretora, é que os estudantes continuam animados sobre a própria educação. As crianças estão estudando, enviando a lição de casa. Alguns estão até pedindo mais porque, para eles, isso é mais importante do que jogar no computador, concluiu Viktoria.
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