14/01/2015 - 05:01h
Victor Vieira - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O novo secretário municipal de Educação de São Paulo, Gabriel Chalita (PMDB), pretende levar ensino de tempo integral aos Centros Educacionais Unificados (CEUs). O objetivo é, segundo fontes próximas ao peemedebista, fazer dessa proposta a marca da nova gestão. Chalita, que teve a nomeação publicada nesta terça-feira, 13, no Diário Oficial da Cidade, toma posse amanhã e terá pouco menos de dois anos à frente da pasta.
Como não terá muito tempo para tirar grandes obras do papel, Chalita deverá implementar a política em CEUs construídos nas gestões anteriores. O prefeito Fernando Haddad (PT) prometeu entregar 20 novos CEUs até 2016, mas até agora não foram abertas licitações.
Na zona norte. Escola teve ensino integral com Chalita
Para cumprir a meta, a ideia não é erguer novas unidades, mas adequar a infraestrutura de unidades educacionais ou esportivas já existentes. A rede hoje tem 45 CEUs, com 120 mil alunos. Ainda não há uma projeção de quantos seriam atendidos pelo modelo do novo secretário.
A articulação entre PT e PMDB prevê que Chalita seja candidato a vice-prefeito na chapa de Haddad na eleição municipal do ano que vem. De olho nas urnas, o foco nos CEUs ajuda a aumentar a influência dos dois na periferia. Os bairros mais pobres costumam dar boa votação a Marta Suplicy (PT), que pode trocar de sigla e concorrer à Prefeitura em 2016.
Outro dos principais desafios de Chalita no cargo será acelerar a expansão da oferta de educação infantil. Das 150 mil novas vagas previstas por Haddad, a Prefeitura diz ter entregue 40,9 mil até agora. Há nove creches em construção e 49 em licitação - são 243 previstas até o fim do mandato. Outra saída tem sido aumentar a oferta de vagas pela rede conveniada.
Experiência interrompida. O programa Escola de Tempo Integral foi uma das principais bandeiras de Chalita quando comandou a Secretaria da Educação do Estado (SEE), entre 2003 e 2006. Seu projeto de jornada escolar ampliada na rede, porém, foi gradualmente abandonado nas gestões seguintes.
Em 2006, último ano de mandato do governador Geraldo Alckmin (PSDB), Chalita implementou o modelo de tempo integral em 514 escolas de uma só vez. Pelo sistema, os estudantes teriam o currículo normal pela manhã e oficinas à tarde. A ideia original era expandir para todo o ensino fundamental.
Implementado às pressas, o modelo foi alvo de críticas, como falta de preparação dos Professores ou de infraestrutura adequada para manter os alunos por várias horas no colégio.
Não dava para abrir o ensino integral em mais de 500 escolas da noite para o dia, relatou ao Estado uma ex-integrante da cúpula da SEE que acompanhou o projeto pouco depois da criação. As escolas não estavam adaptadas e os professores não tiveram preparo para atuar no contraturno.
Em Mirassol, no interior, a Justiça chegou a suspender o projeto em 2006, a pedido do Ministério Público, por falhas nas estruturas física e pedagógica. Queixas também foram registradas em outras cidades.
A presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Noronha, também critica. O currículo precisa ocorrer de forma integrada. Não tem essa de aulas formais durante a manhã e, à tarde, só práticas de outras atividades, disse. O que mais faltou foi infraestrutura, completou.
A consultora em educação Ilona Becskeházy alerta para a necessidade de planejamento. É preciso ter objetivo, com investimentos e profissionais adequados. Nada de última hora vai dar certo, avalia.
Ao longo das gestões seguinte, de José Serra e Alberto Goldman, entre 2007 e 2010, o número de escolas de tempo integral recuou de 514 para 399. Quando voltou ao governo, em 2011, Alckmin lançou um novo modelo de ensino integral, que está sendo implementado.
Segundo o site da SEE, no ano passado ainda havia 255 escolas de ensino integral no modelo de Chalita. Já o novo formato estava em 182 unidades. A pasta tem migrado escolas do formato antigo para o mais recente.
Explicações. A SEE não informou os critérios para a mudança de modelos nem comentou as queixas sobre o formato de ensino integral de 2006. Chalita também não se manifestou sobre as críticas ao projeto elaborado na sua gestão. /COLABOROU LUIZ FERNANDO TOLEDO
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