09/12/2013 - 05:34h
Qual é o plano de fundo para esses protestos? Brasil tem desfrutado por 16 anos de uma nova consciência social e o governo trabalhista está agora em seu terceiro mandato, com a presidente Dilma Roussef tendo herdado todos os resultados positivos conquistados por Lula e Fernando Henrique. Ao mesmo tempo, no entanto, é amplamente relatado o investimento de mais de R$ 30 bilhões na infraestrutura (estádios , aeroportos, ruas etc) para a Copa do Mundo de 2014. É este fato que indignou tanto a população em um país onde ainda existem 12 milhões de pessoas que vivem em nível de fome, onde os hospitais estão cheios e os cuidados de saúde são precários, onde as estradas são mal conservadas, onde o sistema de ensino é fraco e os Professores são muito mal pagos e onde o sistema judicial é incrivelmente ineficiente. Os protestos foram desencadeados quando em muitas cidades as tarifas de ônibus foram reajustadas em linha com a inflação do ano anterior. As pessoas perguntavam por que eles teriam de pagar esse aumento quando relatados investimentos maciços estão sendo feito para a Copa do Mundo, um evento que não estaria fornecendo qualquer benefício direto para o povo. Um movimento livre e pacífico chamado de “passe-livre” desencadeou os protestos.
O povo teria acordado para a incapacidade das classes dominantes em resolver os principais problemas e desafios que o país enfrenta?
A classe dominante estaria preocupada e não saberia o que fazer? De repente eles teriam percebido que os protestos políticos estariam sendo organizados pela sociedade civil, sem qualquer participação de líderes políticos? Eles teriam perdido o trem, “porque estavam cegos para o sentimento de protesto crescente nas ruas”?
Desde junho, houve protestos nas ruas todos os dias, alguns
com 50 participantes, alguns com vários milhares de pessoas. Em 20 de junho mais de 1,4 milhão de pessoas protestaram em todo o país.
O que tudo isso tem a ver com o movimento orgânico?
Por um lado, podemos dizer que o movimento orgânico ganhou um lugar nas ruas do Brasil: há um número surpreendente de mercados organizados de rua (mais de 186, em 50 cidades!), lojas de alimentos especiais de saúde, além de supermercados, creches e escolas onde o alimento orgânico é fornecido. O Ministério da Agricultura registrou mais de 11 mil operadores de orgânicos no país (provavelmente a ponta do iceberg). Todos esses desenvolvimentos envolvem a mobilização popular, a organização de um movimento que pode conversar com as autoridades e negociar mais espaço de manobra. Recentemente, uma plataforma parlamentar foi estabelecida por cinco ONGs da cidade de São Paulo, promovendo debates e conversações com a Câmara dos Deputados, com palestras e outros eventos, levando vários deputados a declararem seu apoio ao movimento orgânico. Para criar um conjunto de leis para produtos orgânicos no Brasil, é necessário dialogar com deputados e senadores.
Mas, ao mesmo tempo, os produtos orgânicos no supermercados geralmente são caros e as vendas estão concentradas na elite. Os estudos mais recentes mostram que o perfil de consumo de 92% dos consumidores de orgânicos tem uma renda de U$ 7.800/ano ou mais (isso em um país onde a renda média é de U$ 4.140/ano ). Ainda há muito trabalho a ser feito, a fim de consolidar orgânicos como um movimento popular.
O governo anunciou um plano ambicioso (Plano Nacional de Agroecologia e Agricultura Orgânica – PLANAPO), com financiamentos da ordem de várias centenas de milhões de reais . A presidente Dilma estava na cerimônia e mostrou bom humor. Este plano é destinado a estimular o setor orgânico com a formação, crédito, pesquisa, compras públicas de produtos orgânicos e outras ações. Resta saber como esse plano vai caber dentro da nova ordem política que está sendo desenhada pelas ruas e se ele será implementado de forma eficaz. Ele vai se concentrar na produção, uso e conservação dos recursos naturais, o conhecimento, o comércio e o consumo. Confira o programa:
O Ministério da Agricultura mostra no momento um total de 10.000 agricultores registrados como orgânicos. Seu plano é chegar a 50.000 nos próximos 3 anos. O governo conta não só a certificação através de auditoria, mas também através do sistema ‘participativo’ , além do sistema de ‘venda direta’ . Nos próximos meses, além dos quatro sistemas participativos já aprovados, o governo aprovará cerca de 17 novos grupos levando mais de mil agricultores ao mercado.
Qual é o estado do movimento orgânico no Brasil hoje?
• Em 2012, as vendas foram no valor de U$ 500 milhões;
• Vendas de orgânicos ocorrem em supermercados, lojas especializadas e mercados de rua;
• Importações (dos EUA e da UE) estão avaliados em US$ 25 milhões;
• Os relatórios mostram um forte aumento do comércio de produtos orgânicos em 2013. O Grupo Pão de Açúcar relata até R$ 380 milhões em vendas.
No final de junho, Bio Brasil Fair | BioFach América Latina e NaturalTech se consolidou como a feira nacional do setor orgânico. De acordo com Abdala Jamil Abdala , presidente da FRANCAL, (empresa proprietária da feira) “O grande número de pessoas nos corredores e estandes, compradores profissionais, bem como o público consumidor, comprovam o sucesso desta edição. “Entre 27 e 30 de junho, 21.485 visitantes (incluindo profissionais do setor) participaram da feira, com degustação e compra de produtos de mais de 200 expositores. O número de compradores profissionais foi 20% maior do que em 2012.
Um dos principais fatores novos que acrescentaram poder à Bio Brasil Fair deste ano foi a parceria com a Nurnberg Messe, promotora da feira alemã BioFach – a mais importante feira de orgânicos do mundo, que também promove edições na Índia, China, Japão e Estados Unidos – e o IPD , Instituto de Promoção do Desenvolvimento, apoiado pela da Apex- Brasil, a ‘Organics Brazil’ , que visa estimular as exportações do setor no país.
De acordo com Ligia Amorim, diretora- geral da Nurnberg Messe Brasil, “observando o potencial de crescimento do setor de orgânicos, a BioFach América Latina volta ao Brasil em parceria com a Bio Brasil Fair com o objetivo de combinar os nossos esforços para gerar negócios , proporcionando o Intercâmbio de conhecimentos através de convidados internacionais e aumentar a visibilidade do produto nos mercados do mundo. Esta feira orgânica no Brasil é definitivamente um grande evento no calendário mundial do setor orgânico. Apesar do prazo curto, conseguimos atrair visitantes e expositores de vários países, incluindo a Polônia, Argentina, Holanda e Peru. Podemos dizer que esta parceria promete bons resultados de mercado”.
A Nona Edição do Fórum Internacional do evento teve a participação de partes interessadas do mundo orgânico de diferentes países para discutir as tendências do mercado internacional e as oportunidades para os produtos brasileiros no mercado global. Entre os oradores representantes da Organic Trade Association (OTA) dos EUA e Canadá, a ex-presidente da OTA e Presidente da IFOAM Katherine DiMatteo .
As exportações do Brasil para o resto do mundo também estão aumentando. A Organics Brasil (agência nacional de promoção das exportações de produtos orgânicos), apoiada pela APEX (Agência de Promoção de Exportação) registrou um total de US$ 195,2 milhões em produtos orgânicos exportados nos últimos dois anos, principalmente para a Europa e EUA . Ming Liu, diretor do Organics Brasil tem ajudado as empresas orgânicas brasileiras a participar de mais de cinco feiras internacionais a cada ano nos últimos 5 anos.
Recentemente produtores orgânicos brasileiros têm visto um aumento significativo na demanda. Será que isto vai afetar o mercado internacional? O Brasil vai se tornar um importante importador e exportador de produtos orgânicos?
O imenso potencial do Brasil em “produtos da biodiversidade” – como açaí, guaraná , castanhas e óleos da Amazônia – e do desenvolvimento de mercados nacionais e internacionais dependem não só de pesquisa, mas do desenvolvimento de produtos.
Também é necessário educar as pessoas sobre as realidades sociais e ambientais locais e as demandas dos consumidores por qualidade e rastreabilidade. Aqui, os jovens profissionais estão sendo treinados pelo IBD, inspetor veterano em Belém, numa região produtora de açaí.
O mundialmente famoso arquiteto Oscar Niemeyer projetou recentemente o Museu Cultural de Niterói, do outro lado da Baía de Guanabara oposto ao Rio de Janeiro. Esta é uma visão ou projeção do futuro do país, mas, na realidade, a trajetória da economia brasileira continua sendo um desafio. O Rio de Janeiro, ao fundo, é um símbolo para a liderança brasileira no meio internacional.
Se o Brasil conseguir superar seus problemas sociais e também de logística, infraestrutura e burocracia, o país poderá decolar para o século 21, como o disco voador visualizado por Niemeyer cujo ângulo de decolagem é indicado pelo Pão de Açúcar! O setor orgânico está fazendo a sua parte para que isso ocorra!
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