O apoio do governo federal para que alunos de baixa renda cursem o ensino superior registrou forte aumento nos últimos anos.
Os empréstimos estudantis oferecidos por meio do Fies (Fundo De Financiamento Estudantil) se multiplicaram por nove entre 2010 e 2014, saltando de R$ 1 bilhão para R$ 9 bilhões (descontada a inflação). No período, mais de 1,7 milhão de alunos foram financiados.
Já os recursos liberados pelo Prouni (Programa Universidade Para Todos) triplicaram (em termos reais) entre 2005 e 2013, alcançando R$ 824 milhões. O total de estudantes beneficiados ultrapassa 1,4 milhão.
Entre as matrículas efetuadas por meio dos dois programas, as duas carreiras que mais se destacam são administração de empresas e direito, áreas em que não há sinais de escassez de mão de obra no país. Já engenharia civil, com deficit de profissionais no Brasil, é o terceiro curso mais demandado por meio do Fies.
Medicina e licenciaturas em áreas como química, física, matemática e biologia -que eram consideradas prioritárias pelo Ministério Da Educação (MEC)- não estão entre as dez carreiras com mais matrículas.
Os dados foram levantados pelo MEC a pedido da Folha.
O governo chegou a cobrar juros menores a alunos com com empréstimo pelo Fies para cursos em áreas com maior falta de profissionais.
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Mas, a partir de 2010, as taxas dos financiamentos aos cursos que não constavam da lista de carreiras prioritárias foram reduzidos. Atualmente, os juros são de 3,4% ao ano para todas as áreas.
O ProUni -programa de bolsas não reembolsáveis -também não prioriza carreiras específicas. As Universidades privadas que oferecem vagas pelo ProUni recebem isenção de impostos.
"Não há priorização de cursos. Estamos atendendo todas as demandas", diz Paulo Speller, secretário de educação superior do MEC.
EFETIVIDADE
A forte expansão do Fies e do ProUni tem levantado um debate sobre a necessidade de se avaliar o formato atual dessas políticas assim como seus resultados:
"Acho que esses programas deveriam trazer incentivo para os cursos de maior interesse para a sociedade e um gigantesco incentivo para alunos bons irem para a pedagogia", afirma o pesquisador Claudio de Moura Castro.
Simon Schwartzman, presidente do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e da Sociedade), concorda: "Tenho a impressão de que a política atual é estritamente de subsídio, o que coloca em questão se esses recursos não seriam melhor empregados para melhorar a educação básica, por exemplo".
Para o economista Naercio Menezes, do Insper, o aumento do número de estudantes no ensino superior proporcionado pelo Fies e pelo ProUni tende a ser positivo independente da carreira escolhida:
"Acho que é benéfico para a sociedade, porque o ensino superior tende a aumentar a produtividade do profissional e sua renda".
Um estudo recente de Menezes identificou as áreas com maior falta de profissionais no país, que registraram queda ou pequeno aumento na oferta de novos graduados e forte aumento salarial, como medicina.
Mas ele ressalta que mesmo em áreas em que houve grande expansão no número de formados e queda nos salários -como administração de empresas- a remuneração ainda é mais do que o dobro da recebida por profissionais que concluíram apenas o ensino médio.
O MEC deu passos recentemente para estender os financiamentos via Fies para cursos de mestrado e doutorado.